SÓCRATES E PAPANDREU


A estratégia de Papandreu resultou.
Sabia que não tinha condições de governar, jogou o pleno. O bluff da consulta popular através de referendo clarificou tudo. Ninguém a queria, nem os gregos pelos vistos, que preferem um governo de coligação e não querem sair do euro, a fazer fé nas sondagens. Apesar de ter utilizado um estratagema espúrio, pois sabia que não se concretizaria, nem era o seu objectivo, em termos políticos foi uma jogada sábia.
Papandreu amarrou a oposição, que permanentemente vota contra as medidas de austeridade consecutivas que a Grécia tem vindo a implementar (já vai na 5ª série),  para ter acesso às tranches da ajuda externa.  Saiu do cargo, mas as condições para governar já se tinham esgotado por completo, era um homem desgastado, A solução alternativa seria eleições antecipadas, mas ele e os outros percebiam que isso seria fatal, pois a Troika não libertaria  os empréstimos intercalares até lá. A Grécia está numa completa roptura de liquidez e não aguentaria tanto tempo.
Deixou o lugar, mas solucionou o problema político. Com a marcação do referendo, obrigou a oposição a rejeitá-lo e a assumir a cumplicidade na aplicação das duras medidas que se seguirão, num governo de coligação,
A direita vai deixar de ser a escapatória ao descontentamento grego. Os papéis em relação a Portugal são invertidos, a direita foi a causa e a esquerda tem a Troika, cá foi a esquerda a origem e a direita namora com os credores, mas um ponto é comum: caíram dois primeiros ministros socialistas.
Sócrates perdeu, Papandreu ganhou.  Quem tiver de assumir a governação vai ter uma missão impossível, com a rua a acossar a democracia parlamentar votada a um completo desprestígio.
Lá como cá, ao fim de alguns meses a culpa é de quem está e não de quem foi, as medidas de ajustamento são de tal castigo que quem as aplica é que é o mau da fita, independentemente do acordo com a Troika ter sido subscrito por todos.
Papandreu saiu, mas clarificou, mantendo o poder na esquerda com o apoio da direita. Sócrates que não deveria ter ido a eleições, levou uma  direita insípida, inexperiente, subserviente e sem ideias ao poder, que agora exerce com o apoio dos socialistas.  Apesar do comando do jogo ser estrangeiro, não é desprezível quem implementa as medidas de ajustamento e quem está disposto a defender o país em vez de ser um director geral da Troika, que prega aos 4 ventos que só empobrecendo podemos sair da crise. O erro de Sócrates aproveitou a Papandreu.

 

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