A CONTAGEM

A contagem para o fim do euro começou.
A maior plataforma electrónica do mundo de transacções cambiais, a   ICAP, está já testar os seus sistemas para trabalhar em dracmas, a antiga moeda grega. Também ontem reputados economistas na Faculdade de Direito de Lisboa, começaram a traçar os planos de contingência perante e eminência da desagregação do euro. Silva Lopes está pessimista e Ferreira do Amaral considera o fim do euro inevitável.
Os gregos para se precaverem acorreram aos bancos e levantaram grande parte dos depósitos em Setembro e Outubro.
Em Portugal andamos com os folclores do OE, do apoia aqui do discorda ali, das greves, dos feriados, da meia hora, dos subsídios, das estimativas da recessão e desemprego, tudo isto como se tivéssemos alguma influência no nosso destino. A banca diz que tem de cortar 36 mil milhões de crédito às empresas até 2014.
Parecem miúdos a falarem dos presentes que o Pai Natal lhes vai pôr ou tirar do  sapatinho.
O Pai Natal vai fazer greve geral e sem ele a prenda vai ser o próprio sapatinho todo roto e  cambado.
O fim do euro vai ser uma tragédia inimaginável, desordenada e dramática.
Até agora era visto como um pesadelo irrealizável e os líderes encontrariam soluções para nos sossegarem. Ilusão fatal,

“Eles não sabiam que o sonho é uma constante da vida,
tão concreta e definida como outra coisa qualquer, como
esta pedra cinzenta em que me sento e descanso,
como este ribeiro manso em serenos sobressaltos,
como estes pinheiros altos que em verde oiro se agitam como estas aves que gritam em bebedeiras de azul.
Eles não sabiam que o sonho é vinho, é espuma, é fermento, bichinho
alacre e sedento, de focinho pontiagudo, num perpétuo movimento
 Eles não sabiam que o sonho é tela, é cor, é pincel, base, fuste,
ou capitel, arco em ogiva, vitral, pináculo de catedral, contraponto,
sinfonia, máscara grega magia, que é retorta de alquimista, mapa
do mundo distante, rosa-dos-ventos, Infante, caravela quinhentista
que é cabo da Boa Esperança, ouro, canela, marfim, florete de espadachim,
bastidor, passo de dança, Colombina e Arlequim, passarola voadora, pára-
raios locomotiva, barco de proa festiva, alto-forno, geradora, cisão do átomo,
radar, ultra-som, televisão, desembarque em foguetão na superfície lunar.
Eles não sabiam nem sonhavam que o sonho comanda a vida, que sempre
que um homem sonha o mundo pula e avança como bola  colorida
entre as mãos de uma criança...”



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