O CIRCO

- Olá amiga, até que enfim, já não a via há meses...bons olhos a vejam...isso é que foi uma lua de mel...bem cheia...
- Lua de mel ? Coitada de mim, foi mas é de fel...o meu anterior marido só falava da crise internacional, o actual nem que o BCE abra falência, a crise é toda nossa...
O outro abria os discursos sempre com a maior crise mundial dos últimos 80 anos, o que tenho agora, só fala do esforço colossal que temos de fazer nos próximos 80 anos...
Para o outro estava sempre tudo bem, para o meu novo esposo, está sempre tudo mal, menos o BPN, que ele diz que vendeu...
O anterior dava tudo, ele era o rendimento mínimo, o rendimento de inserção, abonos de família e até dava um cheque bebé....este é um avarento e cheques, trocou o “e” por um “o”, é só choques: no iva, no irs, na luz, nos autocarros e até no natal já disse que não há prendas para ninguém...
O outro só pensava em comboios e aviões, este que me saiu na rifa...quer tudo a andar a pé...
-Ó minha querida Republicazinha, então mas está assim tão triste e desanimada?
- Como queria que estivesse?  Quando se muda de marido, é sempre com a ilusão de que vai ser diferente...para melhor...mas é sol de pouca dura...Veja bem, desculpe lá o meu desabafo, mas as amigas são para as ocasiões...já viu os amigos do meu marido?
O outro andava sempre em confusões e diziam que se governava...este mete-se em confusões para os outros se governarem...
O outro pelo menos não mexeu nas minhas jóias de família, este já me avisou que vai pôr tudo a leilão...
- Coitada, olhe que desilusão...

- Pois é...você sabe que tenho aquele vício, Deus me perdoe, que devo ter herdado da minha bisavó, de procurar marido no circo...pronto é uma tara, já tive vários palhaços ricos e pobres, até um domador de leões de que me divorciei, mas deixei-o manter-se naquele lugar na presidência, pois por vezes ajuda quando os maridos trepam mais do que deviam, mas dizia eu, é no circo que procuro esposo. O anterior era um ilusionista e agora veja, fui arranjar um ventríloquo, diz que é a voz da TROIKA...
- Ó querida quem é esse?
- Eu sei lá... mas deve ser alguém do tipo das casas de penhor, que empresta pouco e cobra muito...e quer muitas garantias...por isso ele já me ameaçou com a venda das jóias.
- Mas querida, se é assim, mude outra vez...
- Já pensei nisso, mas com quem?
- Fica solteira...
- Também já pensei nisso, mas não dá, tenho de ter sempre alguém...não me dou sózinha. De qualquer modo vou dar mais um tempinho a este ventríloquo, se não mudar vai de requitó...
- Tanto escolheu e não acertou outra vez...
- Está enganada, não escolhi nada, foi o que apareceu, você sabe que no circo nem sempre há artistas disponíveis de verdadeira categoria, é uma classe em declínio. Não tive escolha, saiu-me este na rifa, os bons estavam casados ou já mudaram de profissão.
- Faz bem, dê mais um tempo, pode ser que ele mude...
- É a única esperança, mas também lhe digo não estou com muita fé, tem umas companhias que não me inspiram confiança. O meu anterior marido era: “do quero, posso e mando”, este é: “eles querem, podem e eu não mando...”
- Espero da próxima vez vê-la mais animada...
- Espero bem que sim. Obrigado por ter aturado os meus desabafos.


MERKEL E A CONFIABILIDADE ALEMÃ...




Helmut Kohl  o último grande estadista alemão, chanceler que antecedeu Angela Merkel e que comandou os destinos da Alemanha de 1982 a 1998, liderando o processo de reunificação, dirigiu duras críticas à política externa germânica e particularmente a metodologia que tem sido seguida na crise financeira, que está a colocar em sérios riscos a Europa e o mercado único.
As imagens de uma senhora com ares de sempre atarefada, a disparar sorrisos e beijinhos para os outros líderes europeus, nas consecutivas cimeiras históricas , que como alguém disse, são apenas cimeiras de estórias, em que os resultados são sistematicamente ridicularizados pelos mercados financeiros. Basta assistir aos movimentos das bolsas mais importantes, após as conferências do duo Merkozy, em que com grande pompa e circunstância anunciam sempre medidas inovadoras para a resolução da crise europeia, para se perceber que o mundo não lhes dá qualquer credibilidade. Muito riso e pouco siso.
É disto que se insurge Kohl, grande impulsionador da Alemanha como verdadeira locomotiva da Europa. Kohl sempre percebeu que a desconfiança só poderia ser contornada com uma política de auxílio aos países de economias mais frágeis.
“A Alemanha perdeu a confiabilidade”- disse Kohl e perdeu. O Presidente alemão criticou ontem o BCE por estar a comprar dívida de Espanha e Itália, exorbitando as suas atribuições. Este é o estado de espírito de um país que destruiu por 2 vezes grande parte do património europeu, empobrecendo milhões de cidadãos . É a arrogância da raça superior,  que inequivocamente é dotada de grande capacidade, mas no momento crucial recusa a solidariedade e apoio, perante um ataque sem precedentes ao euro e à união.
No tempo dos disparates de países como a Grécia, Portugal, Espanha e até a Itália, foram facultando e facilitando os recursos que provocaram défices absurdos e endividamentos externos estratoféricos, sem terem cuidado de uma acção moralizadora e preventiva, pois sempre foram condescendendo com as infracções ao Pacto de Estabilidade, que era o único instrumento tampão aos desvarios dos políticos. A precipitação na união monetária, metendo no mesmo saco mercadorias incompatíveis, está à vista.
Merkel tal como Pilatos, lava daí as mãos, mas a água já está contaminada e a imperícia com que a Alemanha está a lidar com a crise que grassa à sua volta, reverterá sobre a sua própria hegemonia económica e afectará a sociedade alemã. Ao não querer recuar um passo que custaria muitos recursos, mas controlando os acontecimentos, vai ter de gastar muito mais  num quadro de anarquia que a muito curto prazo submergirá o espaço europeu. O estoiro da Grécia e o de Portugal logo a seguir, será um cataclismo na economia e finanças da U.E.
As bolsas como termómetro, têm vindo a identificar uma perigosa subida de temperatura, que indicia uma infecção latente. Atacar com antipiréticos só serve para mascarar uma grave doença e se esta não for acompanhada por uma injecção maciça de antibióticos, poderá ser a morte do artista.


HOMEM RICO...HOMEM POBRE...



AUTO FLAGELAÇÃO?


O apelo de alguns ricos empresários franceses, para que lhes seja aplicado um imposto especial para minimizar os efeitos da crise da dívida é surpreendente, mas só aparentemente. O multi-milionário norte-americano Warren Buffett, já o havia sugerido a semana passada.
A economia mundial indicia a proximidade de uma nova recessão, que será agravada pela incapacidade dos governos em implementar políticas de investimento público para amortecer as quebras de consumo e investimentos privados, submersos que estão no controle dos défices.
Quando os ricos pedem para serem flagelados, é porque sentem que a envolvente é perigosa para o futuro. Não se trata de filantropia, trata-se de pragmatismo, não se trata de solidariedade, trata-se de investimento. É a lógica marxista a fazer doutrina: recuar um passo para avançar dois.
O que é absolutamente inadmissível, é que deveriam ter sido os governos social-democrata que na sua maioria lideram os países em dificuldades, a tomar a iniciativa, mas não, a doutrina vigente é carregar de uma forma brutal nos contribuintes da classe média, com uma austeridade  assente no pânico e sempre sobre a ameaça de um futuro pior.
Portugal é um bom exemplo do fenómeno, o governo sempre escudado na herança e na Troika, dispara sobre os cidadãos medidas duvidosas e com duvidosa eficácia, para além da recessão garantida. Cortar e taxar sem uma política económica com um objectivo de promover o crescimento, conduzirá a uma recessão prolongada, que mesmo com o crescimento das exportações será irreversível, tal é o esforço requerido pelo reembolso da dívida e juros. O dilema não é a morte, o dilema é se a morte vai ser pela doença ou pela cura.
A Grécia e Portugal têm a insolvência como facto garantido, a não ser que a zona Euro inflicta a sua falta de pragmatismo e se envolva seriamente na resolução de uma crise que arrastará o mundo numa nova e implacável recessão. Greenspan antigo presidente da Reserva Federal americana, acredita que o euro se está a desmoronar, o que arrastará os EUA.
A Alemanha que continua a olhar para o próprio umbigo, está refém da falta de prestígio interno da sua chanceler, que para se manter no poder tem de rejeitar uma política de apoio aos mais débeis. O presidente francês não está à altura, nem em centímetros nem em estatura política, para a missão de resgatar uma Europa atordoada.
O exemplo dos empresários franceses deveria ser pedagógico para os mais ricos da União: alemães e franceses, que é tempo de recuar um passo para avançar dois.
Caso não o façam, a Europa desintegrar-se-á como unidade económica, monetária e como espaço de liberdade.


A LIQUIDEZ...


O DINHEIRO?


O mundo não é propriamente um condomínio fechado, que agregue um conjunto homogéneo de proprietários e residentes, o mundo é um conjunto disforme de condomínios com as mais diversas condições de vida.
Ricos, poucos; remediados, alguns; pobres, muitíssimos; miseráveis, demasiados.
O prémio Nobel da Economia de 2001, Michael Spence, declarou ontem que o que está a falhar é a política.Nos vários posts que temos vindo a publicar, passe a imodéstia, sistematicamente temos dado ênfase a esse facto.
As condições de vida da esmagadora maioria dos cidadãos que habitam o planeta, excluindo o diminuto grupo dos ricos, depende da evolução da economia e da criação de riqueza, de forma a que aumente a capacidade de distribuição do rendimento. Há muito que a troca directa se esfumou nos tempos, o dinheiro é o instrumento que permite a troca de bens e serviços, entre cedentes e adquirentes.
O dinheiro é pois o meio por excelência, o oxigénio da vida social, tal como hoje a conhecemos. A capacidade de auto-suficiência não existe na sociedade moderna. A dependência global é geral, matérias primas essenciais para a produção de bens também essenciais, estão por vezes muito longe dos locais de transformação. O que uns têm em abundância, escasseia noutros – o petróleo abunda no médio oriente -, mas a água é um bem escasso.
A crise financeira trouxe à ribalta a complexidade do dinheiro. A massa monetária circula no mundo como se estivesse dentro de um imenso globo de vidro e hermeticamente fechado. Ou seja, circula mas não desaparece, as empresas que abrem falência não pagaram as suas dívidas, o dinheiro desapareceu dessas sociedades, mas não saiu do globo de vidro, o que se passou foi uma transferência para outras entidades dentro do globo.
Os que produzem mais do que gastam, absorvem a massa monetária dos que gastam mais do que produzem- China -, o Banco Privado faliu porque adquiriu instrumentos financeiros de empresas que desapareceram, quando o Banco quis vender o que comprou para resgatar investimentos de clientes, os activos que os veículos representavam não existiam, mas o dinheiro não desapareceu, transferiu-se para outras unidades do tal globo. Houve grandes perdas de uns, mas o dinheiro não se desintegrou.
O dinheiro, independentemente dos juízos éticos sobre o conceito é o oxigénio social, até mesmo das religiões que tanto o criticam.
A política está a conviver deficientemente com a crise do dinheiro, está a reagir em vez de agir, está sem uma estratégia que salvaguarde o crescimento mundial e que ataque o espectro de uma recessão que afundará grande parte da sociedade na miséria.

Austeridades brutais impostas aos mais pobres, como soluções para consumo dos eleitores dos mais ricos, sem acautelar o crescimento e impedir recessões profundas, só poderá levar à implosão de todo o sistema. O desemprego disparará, por falta de investimento, as receitas fiscais dos devedores serão menores e menores serão os recursos para pagar dívidas e juros. É esta imperícia dos líderes europeus e americanos, que está a ser severamente censurada por autoridades na área da economia e não só.
A capacidade de definição de medidas para o relançamento económico, não compete aos bancos centrais, a esses compete zelar pela política monetária, o controlo das contas públicas e do endividamento, bem como a estratégia de desenvolvimento da economia, compete ao poder político e esse tem sido ineficaz.
A forma como a Europa em particular, está a lidar com a crise da dívida soberana, será julgada severamente no curto prazo e terá reflexos profundos na qualidade de vida dos europeus.





O APERTO...




TERMÓMETRO DA ECONOMIA



A volatilidade das bolsas continua a um ritmo infernal, com empresas americanas e europeias a terem oscilações de cotações que por vezes chegam a 30 % de desvalorizações e valorizações, em períodos de dias, o que em condições normais deveria ocorrer em anos.
A crise financeira e as fundadas dúvidas sobre a recuperação da economia mundial, está a avolumar as dúvidas sobre os lucros futuros das sociedades cotadas.
Já várias vezes referimos que as bolsas são o termómetro que melhor avalia a temperatura da economia. Independentemente do quadro especulativo que envolve o mercado de capitais, as bolsas reagem com grande acutilância ao conjunto de informações macro-económicas que influenciam o universo capitalista, não destinguindo o trigo do joio, levando na enxurrada das subidas e descidas empresas com desempenhos muito diferenciados. Particularmente em períodos como o que se vive, as descidas do valor das acções de algumas empresas, nada tem a ver com o valor intrínseco de muitas delas, é a venda ao desbarato perante o pânico que passa dos mercados para os computadores, disparando ordens de venda consecutivas, que a procura não suporta, sem uma destruição significativa de valor.
Esta aparente  irracionalidade dos mercados, demonstra inequivocamente que o poder de intervenção das autoridades monetárias dos EUA e da Europa, é completamente esmagado pelos comportamentos dos mercados, com recursos sofisticadíssimos de negociação, imunes aos discursos de tranquilização dos responsáveis políticos.
O mercado de capitais acima de tudo, trata informações concretas e objectivas, que projecta evoluções de curto e médio prazo, que se repercutem nos lucros das cotadas e na respectiva capacidade de remunerar os capitais investidos.
O agravamento da crise europeia, com os receios sobre a falência dos 3 países sob a protecção da Troika, que segundo vários especialistas é irreversível, está a adensar o nervosismo dos mercados, com a perspectiva de grandes perdas nas dívidas soberanas, que irá afectar devastadoramente a banca europeia. É bom lembrar que a banca detém grande parte da dívida pública dos países em risco de default. Em caso de incumprimento, os bancos terão de se recapitalizar para suportarem as perdas provocadas pelos incumprimentos soberanos.
O posicionamento da Alemanha e da França, avessos à emissão de dívida pública conjunta por parte da União Europeia (obrigações), invocando que o futuro do Euro não pode ser resolvido pelo aumento do endividamento, está em contradição com diversas opiniões, inclusive a de Delors antigo presidente da Comissão e permite antever um fim sinistro para a moeda única. Os ricos não estão dispostos a segurar a U.E, mas não lhes restará outra solução, sobre pena de implosão do sistema financeiro com repercussões idênticas à de uma guerra mundial.
A fome e a escassez de bens, invadiria alguns países e infectaria de imediato a estabilidade de todo o sistema capitalista universal, fazendo com que a Grande Depressão fosse um jogo de play-station comparado com o fogo real que daí adviria. Portugal independentemente dos esforços internos que poderá fazer para equilibrar as contas e o endividamento externo, não escaparia à falência, não fosse a contaminação a que se assiste, o que levará a medidas de salvação colectivas, quer os ricos queiram ou não, pois hoje é impossível conter esses vírus através do isolamento. Os mercados metem tudo no mesmo saco, tal como nas acções, a derrocada seria geral.