AUTO FLAGELAÇÃO?


O apelo de alguns ricos empresários franceses, para que lhes seja aplicado um imposto especial para minimizar os efeitos da crise da dívida é surpreendente, mas só aparentemente. O multi-milionário norte-americano Warren Buffett, já o havia sugerido a semana passada.
A economia mundial indicia a proximidade de uma nova recessão, que será agravada pela incapacidade dos governos em implementar políticas de investimento público para amortecer as quebras de consumo e investimentos privados, submersos que estão no controle dos défices.
Quando os ricos pedem para serem flagelados, é porque sentem que a envolvente é perigosa para o futuro. Não se trata de filantropia, trata-se de pragmatismo, não se trata de solidariedade, trata-se de investimento. É a lógica marxista a fazer doutrina: recuar um passo para avançar dois.
O que é absolutamente inadmissível, é que deveriam ter sido os governos social-democrata que na sua maioria lideram os países em dificuldades, a tomar a iniciativa, mas não, a doutrina vigente é carregar de uma forma brutal nos contribuintes da classe média, com uma austeridade  assente no pânico e sempre sobre a ameaça de um futuro pior.
Portugal é um bom exemplo do fenómeno, o governo sempre escudado na herança e na Troika, dispara sobre os cidadãos medidas duvidosas e com duvidosa eficácia, para além da recessão garantida. Cortar e taxar sem uma política económica com um objectivo de promover o crescimento, conduzirá a uma recessão prolongada, que mesmo com o crescimento das exportações será irreversível, tal é o esforço requerido pelo reembolso da dívida e juros. O dilema não é a morte, o dilema é se a morte vai ser pela doença ou pela cura.
A Grécia e Portugal têm a insolvência como facto garantido, a não ser que a zona Euro inflicta a sua falta de pragmatismo e se envolva seriamente na resolução de uma crise que arrastará o mundo numa nova e implacável recessão. Greenspan antigo presidente da Reserva Federal americana, acredita que o euro se está a desmoronar, o que arrastará os EUA.
A Alemanha que continua a olhar para o próprio umbigo, está refém da falta de prestígio interno da sua chanceler, que para se manter no poder tem de rejeitar uma política de apoio aos mais débeis. O presidente francês não está à altura, nem em centímetros nem em estatura política, para a missão de resgatar uma Europa atordoada.
O exemplo dos empresários franceses deveria ser pedagógico para os mais ricos da União: alemães e franceses, que é tempo de recuar um passo para avançar dois.
Caso não o façam, a Europa desintegrar-se-á como unidade económica, monetária e como espaço de liberdade.


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