CRISTIANO E BERGMAN


A RAÇA


PUPILAS DO SENHOR REITOR


JARDIM TEM RAZÃO


MAGAZINE


OS CASEIROS


No Expresso online no blogue “A tempo e a desmodo”, Henrique Raposo o seu radactor, num artigo intitulado “ A crise dos jornais diários e a Carrossel”, descreve muito bem o que se passa na imprensa diária. Realmente há muito pouco para ler, os diários não têm reportagens com “foro literário”, na generalidade limitam-se a ser correias de transmissão da Lusa (agência de notícias).Diz o articulista e bem, que os jornalistas passam a vida no “lero-lero” das redes sociais, na tentativa de acorrerem a tudo que é “caso do dia”. Aconselha e também bem, que a revista gratuita Carrossel é uma boa alternativa à pobreza franciscana que paira nos diários.Posto isto, restam-nos alguns semanários e revistas, que sem a azáfama do dia-a-dia, oferecem matérias tratadas com profundidade e profissionalismo. Da leitura de fim-de-semana, uma amiga arguta, encontrou no Expresso o motivo deste post. Não se trata de artigo de fundo sobre política, economia, religião, ou meramente social, mas curiosamente nas cerca de 12 linhas contempla tudo.Não foi no caderno principal, nem no de Economia, nem na Revista, ou no suplemento Actual, foi exactamente na secção anúncios.Atente no seu conteúdo, antes de prosseguir.Leu?Pois bem, “2 caseiros” de 50 anos sem filhos, pré-falidos (mas sem dívidas), elegantes e com boa presença, não fumadores, procuram trabalho com alojamento.O curriculum é invejável, formação musical e desportiva, aptidão para barcos de recreio, conhecimentos de gastronomia, ex-atleta e ex-empresário (ele), formação pré-universitária e fluência em várias línguas. Moram (ainda) em Cascais. Nível moral, educação e saber estar inquestionáveis. O casal tem experiência de chefia. Aceitam deslocar-se para qualquer parte do país e estrangeiro.Finalizam com o esclarecimento de que apesar de possuírem a humildade para servir, não dispõem de conhecimentos adequados para actividades rurais ou similares.Notável o anúncio, seja ele carregado de ironia, ou de sofrimento latente. Vou mais pela segunda hipótese, pois o telefone pessoal é a forma de contacto escolhido pelos “caseiros”.É uma situação limite, assumida com “british style”, mas nem por isso menos devastadora. Como dizia tem de tudo. Política, pois foi um casal que provavelmente chegou a este ponto com o "empurrãozinho" dos poderes, seja o de antes, seja o de agora. A economia está bem presente, ex-empresário e ambos com experiência de chefia, faz pensar que algo correu mal no negócio dos caseiros. A religião ainda que subtilmente, parece contida no “nível Moral, com elevadíssima educação e saber estar” e finalmente o social, que é o aglomerado de todos os outros, mas sustentado na apresentação inicial: “elegantes e com muito boa presença”.
A vida das pessoas que antes eram da classe média tem sido um suplício, é este “departamento” que o Estado tem assaltado sem misericórdia, pois os abastados, apesar de comparticiparem, rapidamente se ajustaram e estão mais ricos, em número e valor.A maioria silenciosa, sejam pequenos e médios empresários, funcionários públicos, privados e médios pensionistas, é triturada por uma política que pretende reduzir o consumo privado a um nível inconcebível, com evidente repercussão na criação de emprego e na manutenção dos que restam.A fobia do regresso aos mercados, em condições que são apresentadas como libertadoras, não passa de uma quimera que só é possível ser apreendida pela desorientação da informação e contra-informação, que por cá reinam.Os caseiros abanam, mas ainda não caíram, porém a vida está condizente com o nome da terra: Bicuda.