O DINHEIRO?


O mundo não é propriamente um condomínio fechado, que agregue um conjunto homogéneo de proprietários e residentes, o mundo é um conjunto disforme de condomínios com as mais diversas condições de vida.
Ricos, poucos; remediados, alguns; pobres, muitíssimos; miseráveis, demasiados.
O prémio Nobel da Economia de 2001, Michael Spence, declarou ontem que o que está a falhar é a política.Nos vários posts que temos vindo a publicar, passe a imodéstia, sistematicamente temos dado ênfase a esse facto.
As condições de vida da esmagadora maioria dos cidadãos que habitam o planeta, excluindo o diminuto grupo dos ricos, depende da evolução da economia e da criação de riqueza, de forma a que aumente a capacidade de distribuição do rendimento. Há muito que a troca directa se esfumou nos tempos, o dinheiro é o instrumento que permite a troca de bens e serviços, entre cedentes e adquirentes.
O dinheiro é pois o meio por excelência, o oxigénio da vida social, tal como hoje a conhecemos. A capacidade de auto-suficiência não existe na sociedade moderna. A dependência global é geral, matérias primas essenciais para a produção de bens também essenciais, estão por vezes muito longe dos locais de transformação. O que uns têm em abundância, escasseia noutros – o petróleo abunda no médio oriente -, mas a água é um bem escasso.
A crise financeira trouxe à ribalta a complexidade do dinheiro. A massa monetária circula no mundo como se estivesse dentro de um imenso globo de vidro e hermeticamente fechado. Ou seja, circula mas não desaparece, as empresas que abrem falência não pagaram as suas dívidas, o dinheiro desapareceu dessas sociedades, mas não saiu do globo de vidro, o que se passou foi uma transferência para outras entidades dentro do globo.
Os que produzem mais do que gastam, absorvem a massa monetária dos que gastam mais do que produzem- China -, o Banco Privado faliu porque adquiriu instrumentos financeiros de empresas que desapareceram, quando o Banco quis vender o que comprou para resgatar investimentos de clientes, os activos que os veículos representavam não existiam, mas o dinheiro não desapareceu, transferiu-se para outras unidades do tal globo. Houve grandes perdas de uns, mas o dinheiro não se desintegrou.
O dinheiro, independentemente dos juízos éticos sobre o conceito é o oxigénio social, até mesmo das religiões que tanto o criticam.
A política está a conviver deficientemente com a crise do dinheiro, está a reagir em vez de agir, está sem uma estratégia que salvaguarde o crescimento mundial e que ataque o espectro de uma recessão que afundará grande parte da sociedade na miséria.

Austeridades brutais impostas aos mais pobres, como soluções para consumo dos eleitores dos mais ricos, sem acautelar o crescimento e impedir recessões profundas, só poderá levar à implosão de todo o sistema. O desemprego disparará, por falta de investimento, as receitas fiscais dos devedores serão menores e menores serão os recursos para pagar dívidas e juros. É esta imperícia dos líderes europeus e americanos, que está a ser severamente censurada por autoridades na área da economia e não só.
A capacidade de definição de medidas para o relançamento económico, não compete aos bancos centrais, a esses compete zelar pela política monetária, o controlo das contas públicas e do endividamento, bem como a estratégia de desenvolvimento da economia, compete ao poder político e esse tem sido ineficaz.
A forma como a Europa em particular, está a lidar com a crise da dívida soberana, será julgada severamente no curto prazo e terá reflexos profundos na qualidade de vida dos europeus.





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