Helmut Kohl o último grande estadista alemão, chanceler que antecedeu Angela Merkel e que comandou os destinos da Alemanha de 1982 a 1998, liderando o processo de reunificação, dirigiu duras críticas à política externa germânica e particularmente a metodologia que tem sido seguida na crise financeira, que está a colocar em sérios riscos a Europa e o mercado único.
As imagens de uma senhora com ares de sempre atarefada, a disparar sorrisos e beijinhos para os outros líderes europeus, nas consecutivas cimeiras históricas , que como alguém disse, são apenas cimeiras de estórias, em que os resultados são sistematicamente ridicularizados pelos mercados financeiros. Basta assistir aos movimentos das bolsas mais importantes, após as conferências do duo Merkozy, em que com grande pompa e circunstância anunciam sempre medidas inovadoras para a resolução da crise europeia, para se perceber que o mundo não lhes dá qualquer credibilidade. Muito riso e pouco siso.
É disto que se insurge Kohl, grande impulsionador da Alemanha como verdadeira locomotiva da Europa. Kohl sempre percebeu que a desconfiança só poderia ser contornada com uma política de auxílio aos países de economias mais frágeis.
“A Alemanha perdeu a confiabilidade”- disse Kohl e perdeu. O Presidente alemão criticou ontem o BCE por estar a comprar dívida de Espanha e Itália, exorbitando as suas atribuições. Este é o estado de espírito de um país que destruiu por 2 vezes grande parte do património europeu, empobrecendo milhões de cidadãos . É a arrogância da raça superior, que inequivocamente é dotada de grande capacidade, mas no momento crucial recusa a solidariedade e apoio, perante um ataque sem precedentes ao euro e à união.
No tempo dos disparates de países como a Grécia, Portugal, Espanha e até a Itália, foram facultando e facilitando os recursos que provocaram défices absurdos e endividamentos externos estratoféricos, sem terem cuidado de uma acção moralizadora e preventiva, pois sempre foram condescendendo com as infracções ao Pacto de Estabilidade, que era o único instrumento tampão aos desvarios dos políticos. A precipitação na união monetária, metendo no mesmo saco mercadorias incompatíveis, está à vista.
Merkel tal como Pilatos, lava daí as mãos, mas a água já está contaminada e a imperícia com que a Alemanha está a lidar com a crise que grassa à sua volta, reverterá sobre a sua própria hegemonia económica e afectará a sociedade alemã. Ao não querer recuar um passo que custaria muitos recursos, mas controlando os acontecimentos, vai ter de gastar muito mais num quadro de anarquia que a muito curto prazo submergirá o espaço europeu. O estoiro da Grécia e o de Portugal logo a seguir, será um cataclismo na economia e finanças da U.E.
As bolsas como termómetro, têm vindo a identificar uma perigosa subida de temperatura, que indicia uma infecção latente. Atacar com antipiréticos só serve para mascarar uma grave doença e se esta não for acompanhada por uma injecção maciça de antibióticos, poderá ser a morte do artista.
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