POBRES MAIS POBRES


As bolsas continuam o seu inexorável afundanço perante os indicadores que vão chegando do outro lado do Atlântico e da Europa. A recessão é precocemente assumida pelo mercado de capitais.
A U.E. pelas suas indecisões e comando policéfalo desconjuntado acelerou o que se poderia ter evitado.
Num relatório do banco americano de investimento Natixis ontem publicado,  fica claro que aguardar  os efeitos das políticas de austeridade na Irlanda, Espanha, Itália e França para redução dos défices orçamentais, é demasiado tempo de exposição aos ataques dos mercados, que continuarão a esmagar os europeus.
Também o relatório é explícito no que concerne à Grécia e Portugal, ambos têm um problema estrutural de há muito tempo, que incapacita o equilíbrio do comércio externo, pois o sector exportador é diminuto, mesmo incluindo o turismo e imobiliário. Aliás esta incapacidade foi o factor decisivo para o excessivo endividamento privado e défice público.
O tratamento que lhes foi administrado não é eficaz: o perdão de parte da dívida não evita que se acumule de imediato mais dívida, reduzir o consumo interno através de corte de salários e outras medidas restritivas para diminuir a necessidade de empréstimos externos, será a curto prazo insustentável.
A U.E terá de se reestruturar numa lógica federalista, com transferência de rendimentos entre os seus membros, ou a Zona Euro chegou ao fim.
Enquanto que os países como a França, Espanha, Itália e Irlanda podem reduzir ou eliminar os seus défices externos, Portugal e Grécia não terão qualquer probabilidade de o conseguir.
A partir da década de 90, os dois países foram agravando sucessivamente o sua dependência do financiamento externo e a exportação de bens e serviços é ridícula se comparada com as importações.
Os excedentes do turismo e outros serviços são manifestamente incapazes de compensar o défice comercial de bens. Se acrescermos a tudo isto os juros pagos sobre a dívida externa, é expectável a deterioração da balança de transacções correntes tanto quanto a balança comercial.
A sobredimensão do mercado de trabalho não qualificado, escassez de inovação e insuficiência de capital produtivo, são handicap para o reequilibro das contas com o exterior.
Para o Natixis a U.E. vive a ilusão de que Portugal e Grécia possam resolver os seus problemas, mas trata-se apenas de uma ilusão.
Se portugueses e gregos fossem expulsos do Euro, o consumo interno teria de se reduzir mais de 25 % nos 2 países, o que seria insustentável sobre o emprego e a economia ruiria com fragor brutal.
A redução proposta pela U.E para que ambos os países adequem o consumo interno à produção nacional para eliminarem o défice externo, é uma política que terá custos sociais inaceitáveis.
A medicação aplicada a Portugal e Grécia: perdão parcial de dívida, desvalorização, melhoria da competitividade e redução da procura,  não é suficiente e impossibilitará que se financiem no mercado.
Propõe o banco norte-americano, que se aplique a política usada para regiões pobres e desindustrializadas, com uma maior solidariedade dos países ricos.
Um sistema federalista parece ser a única solução possível, com um Orçamento comunitário que atenda às particularidades de cada membro, impondo-lhes regras de contenção, mas que permita que os mais carenciados possam beneficiar das transferência de rendimento dos mais ricos. Se a União, é uma união, então os ricos que apoiem os mais pobres e lhes possibilitem libertar-se da guilhotina das dívidas e dos juros que lhes consomem grande parte do que produzem. Ajudem-nos a industrializar-se e a ganhar competitividade e não exijam aos pobres que cada vez sejam mais pobres.

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