"....E ESTA HEM ?..."


Portugal, segundo um estudo publicado pelo Peterson  Institute for International Economics, precisa de desvalorizar cerca de 22 %, para se tornar mais competitivo e travar o endividamento externo.
Como não dispomos de controlo sobre a política cambial, a mesma só pode ocorrer pela redução dos custos laborais. Para a Grécia o indicador é de 27 %, Itália 11 % e Espanha 3 %. Recorde-se que o défice externo português é superior ao grego.
O apelo da Troika para que as empresas privadas sigam as reduções da função pública, vai naquele sentido. Se considerarmos o agravamento da inflação que se situa nos 4 %, que por si é um imposto mascarado, os cortes aconselhados pela Troika apontam para reduções de 15 a 17 % na massa salarial.
A filosofia assenta no pressuposto que a recuperação do défice externo terá de ser através das exportações. Quem conhece o tecido empresarial português, sabe que apenas 10 % desse universo tem condições para intervir no mercado externo e muitas que o pretendam iniciar não têm capitais para arrancar numa aventura que as pode ainda depauperar mais.
Esta quadratura do círculo atirará o país para uma recessão brutal com consequências imprevisíveis.
O próprio FMI já declarou que a austeridade deve passar para segundo plano, pois a frágil retoma está em perigo e uma nova recessão poderá ser fatal para o mundo. Mais que endireitar as contas públicas no curto prazo, dever-se-á evitar uma regressão na economia.
O ataque dos mercados, exaustivamente escalpelizado por diversas vezes aqui e em muitos outros sítios, veja-se ainda hoje a redução do rating de 10 bancos públicos alemães avançado pela Moody’s,  tem sido implacável e sem qualquer resposta eficaz por parte da Europa, embriagada que anda nas medidas de austeridade que vai impondo, sempre que um membro é atacado.
Está a chegar o momento decisivo, o ataque aos grandes, o 1º foi a Itália, que capitulou sem apelo nem agravo, despachando o 1º ministro para o futebol, seguir-se-á o ataque aos carrascos: Alemanha e França. Aqui vai ser uma luta titânica, mas mais uma vez os mercados vão vencer, esmagando as locomotivas da União.
Foi este cenário que o casal mais inepto que a Europa conheceu: a chanceler Merkel e o Sr. Sarkozy, que em conjunto conseguiram ser mais nocivos que os défices todos juntos e ficarão conhecidos como os coveiros da Europa, nos deixou.
Não protegeram os seus clientes, os que compram o que eles produzem com o dinheiro que também foram emprestando a juros compensadores, ganhando duas vezes: na venda dos equipamentos e na remuneração dos capitais que serviram para lhes pagar as compras., num ciclo infernal que foi consumindo a riqueza dos mais débeis, também eles embriagados por governantes sem escrúpulos que sabiam que a soberania a qualquer momento teria o seu xeque-mate.
Cá estamos todos: uns cheios de carros, estradas, armas, submarinos, casas vazias para venda, campos de futebol, museus e sem dinheiro para pagar a farinha para fazer pão e outros cheios de papéis que representam a dívida daqueles, mas que ninguém quer, pois não têm como pagar...
Como diria o saudoso Fernando Pessa: “....e esta hem?”

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