IMPORT-EXPORT E REPRESENTAÇÕES LDA


Numa coluna de opinião no Expresso, Martin Avillez que tem elevada qualidade de verbo, aborda com mestria o problema da Europa.
Em jeito de síntese para quem não é leitor daquele semanário, a essência do problema está na no posicionamento de cada país no quadro da economia global, uns produzem e criam superavites através das vendas, outros criam défices, pois maioritariamente compram o que outros produzem. Os compradores como solucionam o problema das necessidades de recursos financeiros?
Pedem emprestado aos que vendem, para lhes comprar o que produzem.
Este é o problema. A Alemanha vende e cria excedentes, Portugal e outros compram e criam dívida.
A austeridade resulta do facto de que os que criam superavites deixarem de emprestar dinheiro aos que dele precisam para gastar e lhes comprar. Quando os bancos ficam sem liquidez, significa que a economia fica sem oxigénio para funcionar. Não se importam carros, perfumes, farinha, fruta, carne e tudo o mais. Porque a realidade para um país que importa quase tudo e vende  para o exterior muito menos, é um permanente défice comercial, que impacta na necessidade de se endividar para funcionar. Portugal está nesse segmento.
Claro que os que vendem e criam excedentes, estão a abater os seus clientes e pagador de juros, mas a chegada da China resolve grande parte do problema de escoamento da alta tecnologia e produtos de elevado valor acrescentado da Alemanha e não só. A China compra e paga sem pedir emprestado, pois é a que maior superavit tem em todo o mundo.
O abandono de muitas actividades produtivas em que não tínhamos competitividade, como na agricultura e na pesca,  à custa de incentivos para a extinção da produção, sem que nada tenha ocupado o seu lugar, contribuiu para o aumento das importações e tornamo-nos incapazes de satisfazer a procura interna. Portugal de uma maneira geral virou uma loja de import-export e representações,  mas em que o import tem a fatia de leão.
O nosso consumo é superior ao que produzimos há demasiados anos e pouco se fez para inverter esta situação. O dinheiro que por distracção e conveniência dos credores foi entrando durante muitos anos e que deveria em grande parte ter sido utilizado para ultrapassar aquela disfunção fatal,  foi para comprar o que os nossos credores nos venderam. Ganharam duas vezes, nos produtos e nos juros.
O Estado e os bancos cada vez se endividaram mais, para acorrer ao frémito do consumo impingido por aqueles que agora acharam que já era demais.
O Lehman e depois a Grécia, acordaram os credores para o susto da possível falência dos clientes e esse acordar apressou essas falências nos tempos que correm, mas seriam irreversíveis a qualquer momento.
Os pobres precisam de tempo para se reajustarem, mas nem a isso os ricos estão dispostos, querem tudo demasiado rápido, mas também correm riscos: perdem clientes e capital.


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