“Uma força a crescer nos dedos e uma raiva a nascer-me nos dentes”
A frase de Nicolau
Santos articulista do Expresso, alude à célebre música de Sérgio Godinho. A sua coluna na página 5 do melhor jornal
português, é um momento de inspiração e que ficará na memória futura sobre este
governo.
Como se previa Passos
Coelho e o seu governo, não estão à altura da missão hercúlea com que se
enfrenta o país, depois do thriller Sócrates and friends.
O diagnóstico da situação
foi concretizado pela Troika em pouco tempo, as medidas correctivas assumidas
por todos os partidos, até mesmo pelo PCP e BE, que derrubaram o anterior
governo e agora se queixam sobre a política de direita. Não aprovaram o PEC IV
e agora levam com o PEC XXL e espantam-se com as medidas que nos “levam
ao tempo do fascismo (Jerónimo
Sousa)”, se assim for, é um fascismo democrático, pois foi
o povo que decidiu nas urnas por sugestão dos ditos de esquerda.
Agora atente às palavras
do jornalista:
“V. Ex.a. Sr. primeiro
ministro, diz que faz o que é preciso, Eu diria que V. Ex.a, faz o que disse
que não faria, faz mais do que deveria e faz sempre contra os mesmos. V. Ex.a.
disse que era um disparate a ideia de cortar o subsídio de Natal. Quando o fez
por metade, disse que iria vigorar só em 2011. Agora cativa a 100 % os
subsídios de férias e de Natal até 2013. Lançou o imposto de solidariedade.
Nada disto está no acordo com a Troika. A lista de malfeitorias contra os
trabalhadores por conta de outrem é extensa, mas V.Ex.a, diz que as medidas são
suas, o défice não. É verdade que o défice não é seu, mas embora leve já 4
meses de manifesta dificuldade em o controlar. Mas as medidas são suas e do seu
ministro das finanças, um holograma do Sr. Otmar Issing, que o incita a lançar
uma terrível punição sobre este povo ignaro e gastador, obrigando-o a
sorver até à última gota a cicuta que o
há de conduzir à redenção.
...o que eu esperava do
meu primeiro ministro, é que ele estivesse de forma incondicional ao lado do
povo que o elegeu e não dos credores que nos querem extrair até à última gota
do nosso sangue. O que eu esperava do meu primeiro ministro é que ele estivesse
a lutar ferozmente nas instâncias internacionais para minimizar os sacrifícios
que teremos inevitavelmente de suportar. O que eu esperava do meu 1º ministro é
que ele explicasse aos Césares que no conforto dos seus gabinetes decretam o
sacrifício de povos centenários, que Portugal cumprirá integralmente os seus
compromissos – mas que precisa de mais tempo, melhores condições e mais algum
dinheiro -.
Mas V. Ex.a e o seu ministro das Finanças, comportam-se
como diligentes directores-gerais da Troika, não têm a menor noção de como
estão a destruir a delicada teia de relações que sustentam a nossa coesão
social...e acreditam cegamente que a receita que tão mal está a provar na
Grécia terá excelentes resultados por cá. Não terá. Milhares de pessoas serão
lançadas no desemprego e no desespero, o consumo recuará aos anos 70, o
rendimento cairá 40 % o investimento
vai evaporar-se e dentro de 2 anos,
dir-nos-ão que não atingimos os resultados porque não aplicamos a
receita na integra. Senhor primeiro-ministro, talvez ainda possa arrepiar
caminho. Até lá, sinto uma força a crescer-me nos dedos e uma raiva a nascer-me
nos dentes.”
Esta excelente prosa de
Nicolau Santos diz tudo de uma forma sublime. A personalidade e a audácia dos
nossos governantes está bem patente naquela “bofetadazita” carinhosa ao nosso
ministro das Finanças por parte do ministro alemão, como que aprovando os
castigos que ele nos está a impor, mais ainda do que eles pretendiam. Gaspar sorriu-se quase corando, ufano com o elogio e como se de um bom aluno se
tratasse, delirante com o incentivo do mestre.
É disto que temos, não são
patriotas, são os directores gerais da Troika ao serviço do capital.
Sócrates foi tudo e mais
alguma coisa, foi o delirante responsável em primeira instância do descalabro,
mas de uma coisa não pode ser acusado, pelo menos que se visse, a sabujice aos os seus pares.
“É a raiva a nascer-nos nos dentes...”
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