ORÇAMENTO DA DISCÓRDIA


A sondagem do Expresso é inequívoca: 81 % dos portugueses não concorda com o OE para 2012; 80 % não concordam com os cortes aos funcionários públicos; 58 % não confiam no Governo;  63 % dizem que as metas do OE não serão cumpridas e 60 % não confiam  no ministro das Finanças.

Este conjunto de respostas é uma premonição para o futuro.  Os portugueses em síntese dão o dito por não dito, há poucos meses escolheram o novo executivo e agora coloca-lhe todas as reticências. A impreparação política do primeiro ministro, exposta cruelmente na comunicação social através do contraste das suas afirmações antes de chegar ao Governo e as suas medidas no executivo, justificam alguma  coisa,  mas não tudo.
A alteração do seu discurso de esperança, que foi o paradigma do seu programa eleitoral, identificando bem que os portugueses não poderiam ser mais sacrificados, para o oposto, com um permanente acentuar da desgraça e do empobrecimento,  foi um “murro no estômago dos portugueses”,  frase que lhe é cara.
O seu ministro das Finanças, um monetarista convicto, dia a dia vai demonstrando o erro de casting que foi a sua escolha. Técnico brilhante, perfeitamente preparado para banqueiro, despegado de ambições políticas, aplica as receitas afirmando o desprezo por Keynes. Friedman é o seu modelo, a escola de Chicago a sua religião.
Os apoios que as medidas do Governo vão recebendo, vêm todas do mesmo lado: banqueiros,  associações patronais, empresários endinheirados e de outros sectores que se servem do fraco poder político do primeiro ministro para atacarem os mais fracos.
O próprio Presidente veio à liça com mais vigor que o líder da oposição, também ele um estagiário parlamentar.
O primeiro ministro usa e abusa do alarmismo, para impor condições debaixo do terror da falência. O seu peso político internacional é nulo e tenta arrebanhar alguns apoios através da lógica do bom aluno, ainda que para isso tente impor medidas sem equidade e injustas. Com o tique de tem de ser e sem negociar outras que amorteçam os efeitos.
Foram portugueses que assaltaram o BPN, mas não todos, só alguns e muito poucos, Esse automático submeter todos a sacrifícios tem de ser bem explicado. Para onde foi o dinheiro? O empregado de mesa com ordenado mínimo, que teve a ver com o BPN? Vai pagar mais pela energia, pelo transporte e pelos bens essenciais...ele ainda não entendeu porquê, sabe que tudo se passa porque houve assaltos e muitos se governaram...
Não adianta os comentadores levarem o Governo ao colo, com a teoria de depois deles o abismo,  que as medidas têm de ser estas, pois não há outras.  O país não confia minimamente na classe política e com toda a razão, foi ela que nos trouxe até aqui.  Os que lá estão, não são diferentes, só são outros.

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