KEYNES & FRIEDMAN

A objecção do Presidente à proposta do OE para 2012, traz à ribalta as duas correntes dominantes de condução da política económica mundial: a keynesiana e a monetarista.  O ministro das Finanças Vítor Gaspar é um monetarista e Cavaco um adepto de Keynes.  Ambos se dispõem ao cumprimento do acordo com a Troika, diferem é no caminho.
Vamos descodificar estes chavões sem cuidar de grandes teorias, para compreensão dos alunos que frequentam os cursos das novas oportunidades.
Keynes foi um ilustre inglês nascido em 1883 e falecido em 1946, homossexual convicto até perto dos 30 anos, apaixonou-se em 1921 por uma bailarina  russa com quem se casou. Para Keynes o Estado é um agente indispensável de controle da economia, com o objectivo de conduzir a sociedade ao pleno emprego. Na sua perspectiva o Estado tem o direito e o dever de conceder benefícios sociais à população, um padrão de vida mínimo através de um salário mínimo, subsídio de desemprego, horário de trabalho definido e assistência médica gratuita.
Keynes
A teoria de Keynes baseia-se no princípio de que os consumidores gastam e poupam em função do seu rendimento. Assim,  se aumenta o rendimento, aumenta a taxa de poupança. Para Keynes em épocas de recessão o Estado deve intervir imprimindo moeda para aumentar a procura, através de défices do orçamento de Estado e assim manter o pleno emprego. Chama-se a atenção contudo,  que o economista nunca defendeu a manutenção dos défices de um ciclo para outro (do de crescimento para o de recessão) e muito menos manter orçamentos deficitários na fase expansiva do ciclo económico. Por outras palavras, uma economia nacional equilibrada do ponto de vista fiscal, poderá por um breve período sair do equilíbrio para restabelecer o emprego.
A escola Monetarista com Milton Friedman (EUA-Escola de Chicago-1922-2006) como  figura predominante, conhecida também pela liberal, desafiou a teoria keynesiana dominante, ao determinar que a maior crise do mundo capitalista – A Grande Depressão (1929) resultou do excesso e não da falta da intervenção do Estado.
Friedman
A crise do petróleo de 1974, deu força às teorias  neo-liberais, com os dirigentes de diversos países a comprometeram-se  com o fim da regulação e dos mecanismos de controlo e transparência do sistema financeiro internacional. Para os neo-liberais a economia regula-se pelos derivativos. Em síntese, o mercado auto-regula-se e é a razão absoluta do capitalismo.
Em 2003, Friedman declarou que as condições para a prosperidade estavam garantidas, o desemprego era baixo  e a inflação controlada. Para Fiedman a política monetária de Greenspan, presidente da Reserva Federal Americana, trariam à economia prosperidade por muitos anos. Como se veio a verificar a realidade actual contradisse a teoria, e assiste-se actualmente ao regresso às teorias de Keynes com maior regulação e o controlo do Estado ao sistema financeiro.
Como é evidente Portugal manteve a partir do 25 de Abril a adopção da teoria de Keynes, simplesmente  manteve défices orçamentais consecutivos e sempre que foi necessário contrariar os ciclos recessivos o Estado endividava-se ainda mais, sem conseguir inverter essa escalada.
Atente-se ao quadro português (Expresso-Martim Avillez):
-População trabalhadora: 4.9 milhões
Empresas com menos de 10 trabalhadores: 95 % do universo empresarial
Distribuição do trabalho: 45 % (cerca de 2 milhões) nas empresas com menos de 10 trabalhadores
Empresas com mais de 250 trabalhadores: 0.08 % que empregam 21% das pessoas.
Empresas com prejuízos: 44 %
Sector: 70 % das empresas na prestação de serviços-

Conclusão: Inexistência de economia real. A concentração na área dos serviços, torna muito improvável a capacidade de exportar.
O crescimento nacional (PIB) está dependente em cerca de 50 % do Estado e este só sobrevive através de empréstimos do exterior.
Este o verdadeiro drama que não pactua com teorias económicas mais ou menos elaboradas, esperar que o efeito recessivo possa ser contrariado pelo crescimento da economia real, através da exportação de bens transaccionáveis, está condenada ao insucesso porque o país nunca desenvolveu uma estratégia de crescimento estruturada  nesse objectivo, optou sempre por deixar ao Estado a alavanca do crescimento, agravado por não ser reprodutivo.  Foi uma falácia que o stop dos credores trouxe à evidência.
Os ajustamentos da economia não se fazem em tão curto prazo como os que o Governo insinua, a recessão manter-se-á por muitos mais anos. O empobrecimento do país, pela incapacidade da economia real substituir o Estado no crescimento necessário, será uma realidade brutal e sem paralelo. Antes éramos pobres e agíamos como tal, hoje somos pobres, mas com dívidas de ricos e para as pagar, somadas ao custo de vida, vai ser mais uma quadratura do círculo.

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