GRANDE ENTREVISTA ZÉ SÓCRATES


Perante a degradação da situação do país, em que cada vez se ouvem mais vozes a acusar o anterior governo pelo estado do colapso e particularmente o ex-primeiro ministro José Sócrates, impunha-se ouvirmos a opinião do ex-governante.
Fomos a Paris e num café de Montparnasse perto da Sorbonne, onde está a estudar Filosofia, falamos descontraidamente com o ex-homem forte de Portugal.

J- Sr. Engº, a situação em Portugal está explosiva, a palavra austeridade já se nem usa, de gasta que está...
S- Não me trate por engº. dá aso a interpretações malévolas. Agora sou o Zé.
Eu tenho lido alguma coisa sobre o assunto, não muito, pois tenho de preparar os exames, no entanto acho que há em tudo isso um grande exagero.
J- Exagero? A situação é desesperada, a banca não tem liquidez para a economia e particulares e ainda para poder acudir às empresas públicas...
S- Eu nunca tive a ver nada com a banca, quem tratava disso era o ministro das finanças, mas basta ver as caixas do Multibanco, para se perceber que a falta de liquidez é um falso problema. Já teve alguma dificuldade para levantar dinheiro nos MB?
J- Por acaso não.
S- Não é por acaso, é porque os bancos têm a liquidez suficiente para acudir às famílias e particulares. Estão a enganar os portuguesas com essas fantasias, para lhes impor medidas ultra liberais.
J- A moody’s  na semana passada baixou o rating dos maiores bancos para lixo...
S- Isso não tem nada a ver com o que a propaganda apregoa, isso foi resultado da reacção dos mercados ao combate jurídico entre Jardim Gonçalves e Joe Berardo. Os mercados são muito sensíveis a essas lavagens de roupa suja.
J- O país apresentou um défice nos 1os 6 meses com um desvio de 2.000 milhões de euros, o que vai obrigar a medidas adicionais para se atingir os 5.9%, acordado pelo seu governo.
S- Mais uma atoarda para servir interesses inconfessáveis. Onde está o desvio?
Ninguém mostrou, a  não ser nas contas da Madeira. No resto não houve qualquer desvio. Como é que podíamos desviar o que quer que fosse, se não tínhamos dinheiro...
J- As empresas públicas têm uma dívida astronómica, particularmente nos transportes...
S- Nada disso. As empresas públicas estão capitalizadas e a muito curto prazo teriam os recursos para normalizar a sua situação financeira.
J- Como?
S- Com a entrada em produção dos poços de petróleo da Malveira e Ericeira.
J- Mas não é do domínio público a extracção de petróleo em Portugal...
S- Nem podia ser, eu só o refiro agora porque tenho estado sujeito a um ataque soez.
J- Mas tal facto poderá inverter a situação do país...
S- Não poderá, já pôde. Porque razão construímos tantas auto-estradas? Para dar condições ao boom automóvel que advirá do preço dos combustíveis em low-cost.
J- Na forma como expõe, parece que não falamos do mesmo país...
S- Falamos falamos. Eu deixei o país mais rico e apto a concorrer com as potências mais competitivas e isto quando estamos na maior crise dos últimos 81 anos.
J- Então não é 80?
S- Já passou mais um.
J- O António Barreto disse que Portugal pode desaparecer dentro de alguns anos. O que pensa?
S- Não sei, o Barreto vive perto de Vilar de Perdizes e é muito ligado às ciências ocultas, pode saber coisas que o vulgar mortal não sabe.
J- O que pensa da política económica do governo?
S- Não existe.
J- Não se sente responsável pelo descalabro das contas públicas? Porque demorou tanto tempo a pedir ajuda?
S- Não há descalabro, há umas ligeiras dificuldades facilmente ultrapassáveis. Não pedi mais cedo porque não foi preciso, só quando os bancos avisaram que não emprestavam mais dinheiro é que tomamos providências. Para quê pedir mais cedo? Esperamos o momento certo. Ganhou-se um ano no aumento de impostos. Foi bom para todos.

Esta foi a 1ª entrevista de Zé Sócrates após a saída do governo.

@Paris, Lulu Gouveia para o JRN


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