Hoje vamos tentar
descodificar o que se está a passar com os
bancos em Portugal e que está a provocar a quadratura do círculo, ou
seja o torniquete que está a asfixiar transversalmente a vida das empresas e
particulares.
A crise financeira que
teve o seu início devastador com a falência do Lehman Brothers, que era o
quarto maior banco de investimento dos EUA, teve um efeito dominó sobre muitas
instituições financeiras em todo o mundo. O crédito fácil que aumentava
irracionalmente o valor dos bens financiáveis, sofreu um travão repentino. Os
activos desvalorizaram-se, o exemplo das casas é paradigmático, quem comprava,
para além do usufruto garantia uma valorização do imóvel, muitas das vezes com
rendibilidades bem superiores às alternativas que o mercado dispunha. Após a
crise assistiu-se à perda de valor dos investimentos feitos nos últimos 10
anos.
Os países com menores
recursos financeiros, para responder ao acréscimo do investimento dos privados
e ao aumento do consumo, recorriam a empréstimos no exterior. O que se passou
após 2008 e perante a incerteza que a falência do Lehman induziu sobre os
investidores, foi uma grande restrição no acesso ao crédito
externo. Países como a Grécia, Irlanda e
Portugal que carregam grandes dívidas públicas e endividamentos externos
desproporcionados, ficaram de um momento para o outro sem acesso a empréstimos,
que financiavam pagamento de outros empréstimos anteriores e os recursos
necessários ao funcionamento da economia real.
Em Portugal esse bloqueio
colocou em sério risco a solvabilidade do Estado e de muitas empresas públicas,
o que obrigou o Estado a impor aos
bancos a canalização de muitos
recursos para o financiamento da dívida pública. O Estado tem sobrevivido desde
2008 através deste expediente, com o governo anterior a esticar até ao limite a
capitulação, que foi o pedido de ajuda externa.
Com a chegada do FMI, a
regulação do sistema bancário ficou dependente da Troika, que impôs regras mais
apertadas para a concessão de crédito. Os limites de financiamento às famílias
e empresas passaram a ser do âmbito do controlo externo.
Em resumo, a banca
depara-se com:
1º- Imposições por parte
da Troika, na redução da concessão de crédito.
2º- A obrigatoriedade de
substituir o Estado no financiamento das empresas públicas, por impossibilidade
daquele recorrer ao mercado, o que desvia grande parte da liquidez necessária à
economia real.
3º- O volume do crédito
mal parado tem vindo consecutivamente a subir, dificultando o ciclo de
financiamento.
4º- Grande parte do
crédito concedido foi no âmbito do crédito à habitação, cujo retorno é a longo
prazo.
Estes detalhes a que por
ventura se juntarão outros, coloca a interrogação da capacidade do país para
sair do beco em que foi metido.
A austeridade sem a
capacidade de crescer, levará irreversivelmente a um aumento do endividamento e
a nova capitulação. O controlo da despesa pública é absolutamente essencial,
tal como o financiamento da actividade das empresas que sejam viáveis
economicamente, quer produzam para o exterior, quer substituam demandas ao
exterior. O contrário disto será uma complicação
demasiado grande para todos nós (excepto para os ricos).
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