OS RICOS, OS POBRES E AS ILUSÕES


No campo da Psicologia, em particular da Psicologia do Desenvolvimento, o conceito de crise é explicado como toda a situação de mudança a nível biológico, psicológico ou social, que exige da pessoa ou do grupo, um esforço suplementar para manter o equilíbrio ou estabilidade emocional. Corresponde a momentos da vida de uma pessoa ou de um grupo, em que há ruptura na homeostase psíquica e perda ou mudança dos elementos estabilizadores habituais. (wikipédia).”

Parte do grupo está em crise, mas há muitos portugueses que beneficiaram e criaram as condições que conduziram à crise, verdadeiras carpideiras profissionais, que escrevem, que vão à televisão, que pregam que estamos falidos, que temos de mudar de vida, que “as ilusões acabaram” e um sem número de advertências aterradoras, mas sempre para os outros, porque eles não mudam nada na sua vida pessoal - falam sobre a crise dos outros- e o mais incrível é que os outros ouvem-nos.
Percebe-se agora claramente que a desgraça do país foi a classe política, que se renova consecutivamente em discursos contraditórios, com outras figuras de circunstância, mas no seu todo e salvo honrosas excepções, criou o monstro que nos conquistou.
A crise é como um cancro silencioso na fase de maturação e que num ápice assassina o contemplado. É comum ouvir-se “abriram e fecharam, nada a fazer...”.
O bastonário da Ordem dos Médicos foi isso que fez quando disse

    "Portugal está na bancarrota e não vai cumprir a dívida"

Os que mais falam da crise, são os que menos sofrem com ela, pois os verdadeiros “crisados” gastam o tempo a  procurar forma de a contrariar para sobreviver. Os desempregados e os donos de empresas sérias em dificuldades, só servem para dar cor ao discursos dos crisistas.
A crise para uns é um conceito abstracto, exercício de retórica, para outros coisa muito concreta vivida diariamente. Curiosamente os que mais falam dela, são os que menos a conhecem e os que com ela casaram, calam-se por vergonha.
Cansa ver figuras que estiveram na génese do monstro, que denunciam vidas diárias despreocupadas e com futuro assegurado, debitar anúncios de contenção e sacrifício aos  que têm um presente de medo e privações, que não lhes dá tempo para pensar no futuro.



Uns cretinos dizem que estamos desgraçados e sem saída, outros que temos de fazer sacrifícios e mudar de vida, mas eles não.
Os governantes que ao longo dos anos incentivaram a  que se gastasse o que se pedia emprestado ao exterior ; nas casas, nos carros, no consumo e no resto, vêm agora dizer – STOP-. Para quê? A coisa já tinha parado. Os bancos fecharam o crédito, as empresas asfixiaram, o desemprego aumentou e obviamente o consumo caiu.
Basta dar uma volta pelo Porto ou Lisboa, para se viver a decadência nas artérias mais emblemáticas. Negócios fechados, o “passa-se”, o compra-se ouro usado, onde antes havia um estabelecimento útil. Prédios antes chics, hoje têm vende-se em muitas janelas. Os cartões de crédito que restam, ainda suportam um último fôlego nos restaurantes da moda e nos outlets. A aparência cada vez mais se vai desaparentando.
“É o fim das ilusões” dos pobres, que foram aconselhados a gastar como ricos, mas não é o fim das ilusões dos ricos ...porque por isso é que são ricos.



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