O linchamento de mais de 1
milhão e meio de pessoas de uma classe prestigiada no antes 25 de Abril e
amaldiçoada após a revolução, foi
perpetrado pelo governo num acto para além de tudo imoral e de legalidade
duvidosa, pois é discriminatório.
As FENPROFS, as CGTPS, os
Sindicatos de Magistrados, dos Ferroviários, das Polícias, etc, contribuíram
muito para o ódio que se estabeleceu na sociedade contra os funcionários
públicos, considerada uma classe privilegiada, sem risco nem produtividade.
Não se trata porém apenas
da redução do salário, trata-se da humilhação pública. O problema nacional mais
grave é o do endividamento externo e esse é de todos os portugueses e não de
uma só corporação.
O ódio aos empregados do
Estado é bem patente nos comentários de apoio aos cortes salariais que serão de
cerca de 25 % em média.
Os portugueses são uns
lobos com os fracos e uns gatinhos com os fortes. Quando chegam aos hospitais,
se não for a competência, o esforço e a humanidade de muitos desses funcionários públicos, o sofrimento seria
muito maior. Nos hospitais privados, cada sorriso, cada atenção, cada tratamento, é pago em milhares de euros, nos
públicos com a taxa moderadora e às vezes nem isso. Quando vão aos serviços de
emprego e desemprego, depende da eficiência de muitos funcionários a
minimização de muita miséria, quando têm problemas de segurança, não chamam
stewards, chamam por funcionários públicos. Nas escolas e universidades, muitas das
melhores são públicas, servidas por funcionários com conhecimento e competência
reconhecidos internacionalmente. Nos apoios à economia real, são muitos os
funcionários públicos que contribuem com o seu trabalho e empenho, para que
ajudas e apoios comunitários cheguem em condições de apoiar as empresas individuais e colectivas. Do que os funcionários não podem ser
responsabilizados é da incompetência da gestão, da cadeia de comando que é determinada pela classe política, que
se serve da função pública para se se servir.
Se há muitos funcionários
ineficazes e improdutivos, isso existe também na actividade privada, a
improdutividade nacional não é corporativa, é um indicador colectivo.
O que o governo fez,
contra a opinião do Presidente de que se não deveria descriminar portugueses no
sacrifício colectivo que se exige, foi dar um exemplo ultra-liberal que as próprias associações patronais de
apressaram a repudiar, rejeitando o mesmo método para as empresas.
Discricionário, prepotente
e humilhante, foi o que governo fez aos funcionários públicos portugueses.
Perante o apuro, disparou sobre aqueles que pode espezinhar e já demonstrou a
sua fraqueza. Não tem capacidade nem competência política para negociar com
credores nacionais e internacionais, tentando suavizar compromissos para evitar
medidas tão compulsivas, que
contribuirão decisivamente para que sejamos a Grécia, se dúvidas havia.
Já percebemos que a
redução da despesa é esta, o primeiro ministro tão célere no cumprimento dos
acordos com a Troika, esqueceu que tem acordos nacionais que também não pode
deixar de cumprir, um deles é o pagamento de salários aos seus empregados.
Medidas teriam de ser
tomadas perante o descalabro em que os antecessores do Primeiro Ministro deixaram o país, este mostrou-se capaz do
diagnóstico como clínico geral, mas a doença agora teria de ser tratada por
especialista experiente, com peso político e sem subserviência, com a dignidade
de querer cumprir, mas obtendo ajustamentos de calendário que evitassem o pior,
que é o que nos espera ao virar da esquina.
Capitulamos na forma e na
substância, leiam o Expresso, incontornável para se entender o drama.
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