A
investigação de um crime perpetrado por alguém não identificado, parte da
constatação do facto, até à análise dos indícios, motivações e provas, até chegar a uma conclusão
definitiva sobre o autor. Ou seja, parte do fim para o princípio, dos efeitos para
as causas.
Se
aplicarmos o método à crise que vive a Europa, ainda sem o processo de
investigação estar concluído, tudo aponta para que o crime tenha uma motivação
primordial: a destruição da política social e o culpado tudo indicia que tenha
um nome: capitalismo.
Para
alicerçar a ideia vejamos:
Uma
empresa industrial na Europa em regime de concorrência perfeita (esmagadora
maioria), para produzir um bem transaccionável, incorpora matéria prima, gastos
gerais de funcionamento fixos e variáveis, gastos financeiros e gastos de mão
de obra. Quanto mais elevado for o nível tecnológico da organização, maior o
automatismo produtivo e menor a incorporação de mão de obra.
A
chinesização planetária, provocou uma autêntica revolução nos custos de
produção de grande parte dos bens que a sociedade ocidental adquire para o seu
dia a dia. O peso relativo da mão de obra na China sobre o preço do produto é
entre 3 e 5%, na Europa entre 12 a 17 %, conforme o grau de automatização. O
resultado foi a deslocalização de muitas unidades industriais para os “paraísos
da mão de obra”. O perigoso enriquecimento dos emergentes à custa do
enfraquecimento do poder do capitalismo ocidental, acendeu a luz vermelha e
assiste-se ao ataque devastador sobre o peso do custo da mão de obra na
estrutura do produto.
A
democracia é um regime muito pouco confortável para a imposição de políticas
restritivas dos direitos sociais, mas também por si é auto destrutiva, pois a
escolha dos cidadãos recai normalmente por quem propõe políticas expansionistas
e despesistas, sem atender à riqueza produzida e ao endividamento externo. O
que acontece em Portugal, Grécia, Espanha , Itália e outros é resultado disso
mesmo.
O
capitalismo sempre eficaz, como solucionou a quadratura do círculo? Da forma a
que estamos a assistir, cedeu recursos e mais recursos, tornou as sociedades
escravas da modernidade, viciou-as no consumo e nas regalias sociais e de um
momento para o outro fechou a torneira e disse-lhes “finito”.
Os
sindicatos foram às malvas, os direitos constitucionais à educação, saúde e ao
trabalho foram completamente cilindrados e a influência da cidadania limita-se
aos protestos mais ou menos numerosos, sem qualquer efeito prático.
A
palavra “BANCARROTA” foi a chave da capitulação da DEMOCRACIA ao CAPITALISMO.
A
redução dos salários e das regalias sociais por via dos impostos ou pela
política laboral das empresas para ganhar competitividade, é a conquista do
capital e nós que tão habituados estávamos às famigeradas conquistas dos
trabalhadores. Na Grécia foi aprovado num ápice o fim da contratação colectiva,
que tão querida era aos sindicatos.
O
capital ocidental pressionado pela Ásia, vai recuperar parte das sua perdas à
custa da redução do custo salarial. A proposta da Troika para a redução da TSU,
encaixa perfeitamente na teoria, a competitividade ganha pela redução do
impacto da variável mão de obra.
Os
políticos em democracia no frémito do poder, agem sem uma estratégia de médio e
longo prazo, pois os eleitores também não lhes concedem esse tempo, a palavra
chave é investir para crescer, quando quase sempre o resultado é gastar para
minguar. Chegado ao momento do crime, como o do início do texto, percebe-se do
logro em que caíram os regimes europeus, vamos ser esmagados por um poder que
não se sujeita a votos e que não olha a meios para recuperar perdas ou aumentar lucros, elimina as
soberanias nacionais e esmaga direitos
que julgávamos imutáveis.
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