PAIXÃO DE TRIPEIRO


Pinto da Costa aos 74 anos, completa 30 de presidente do F. C do Porto.
O Porto clube confunde-se com o Porto cidade. No Porto em que se troca os vês pelos bês, em que nêsperas são magnórios, cadeados são aloquetes, a bola não salta por que pincha e os peros são maçãs, há uma personalidade muito própria. O tripeiro gosta que o reconheçam pela pronúncia, menos elegante, por vezes grosseiro, mas tem honra na sua cidade, gosta do S. João na rua, gosta de levar farnel para a praia e gosta das romarias urbanas,
Bairrista, por vezes fanático, vive as vitórias e as derrotas do Porto com um sentimento que está para além de um adepto de clube, é a cidade que ganha ou perde. Noutras terras passar-se-á o mesmo, mas na Invicta e até por isso, perder é sofrimento maior.
Desconfia de tudo que vem da capital, excepto do comboio, por vezes escapa-lhe o provincianismo de se sentir inferiorizado e faz de um qualquer jogo a guerra norte-sul. Perde por vezes o bom senso e desde que se ganhe aos de Lisboa, os fins justificam os meios, mas isso vem muito de trás, vem do tempo em que o Porto era subalternizado aos interesses da capital do império e tinha a simpática designação da cidade do trabalho.
A liberdade trouxe a emancipação do Porto e o F. C do Porto foi a imagem de marca desse soltar das amarras.
O presidente Pinto da Costa foi o general estratega desse movimento de libertação. O Porto internacionalizou-se, ganhou prestígio, dominou internamente em todas as modalidades mais representativas e ultrapassou o seu arqui-rival, o Benfica, que antes do 25 de Abril era o clube do regime.
Podem-se invocar milhares de desculpas, podem tentar denegrir por alguns erros cometidos, que existiram, mas é absurdo tirar o mérito a 30 anos de liderança de um homem, eficaz e apaixonada pelos dois Portos a cidade e o clube, que se fundem numa só identidade e que fazem do azul e branco a cor da paixão de um tripeiro.


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