LÁGRIMA


Assiste-se ao afinado coro dos que dizem que os portugueses têm dado um exemplo de grande maturidade e responsabilidade cívica, pela forma como têm acatado as medidas de austeridade que lhes têm vindo a ser impostas progressivamente e sem fim à vista.           
Desde os membros do Governo, passando pelas centrais sindicais, até aos inefáveis opinion -makers, todos são unânimes em salientar essas grandes qualidades dos lusitanos, comparados com gregos e espanhóis por exemplo.
Henrique Monteiro na última edição do Expresso desmistifica essa hipocrisia, pois a falta de indignação perante atropelos como os do BPN e quejandos, nada tem a ver com maturidade ou sentido de responsabilidade cívica, tem a ver sim com o nosso complexo de inferioridade e a nossa humildade servil. Não somos de brandos costumes por opção, somos porque faz parte da nossa condição como povo, aceitamos o fatalismo como seja o nosso fado. O belo fado é a canção da resignação e é a lamúria da desgraça, como se esta seja o nosso destino natural. 
Os portugueses sempre aceitaram com humildade tudo o que dimana do poder, seja ele qual for, seja ditatorial ou democrático, estúpido ou prepotente. O país tanto idolatrava Sócrates, como reforça Coelho nas sondagens, após impiedosas medidas de austeridade. Quando se manifesta é tão ordeiramente, que até os políticos apreciam e recomendam, pois dizem que são válvulas de escape social que servem de catarse.
Enfim, somos um povo ordeiro, humilde e sem reacção, aceitamos tudo de bom ou de mau, com a mesma compostura, não nos importamos sequer em que responsáveis pelas coisas más, continuem a comandar os nossos interesses como nação, não nos indignamos sequer com os que como actores nos conduziram a este filme de terror e dia a dia nos invadem nos jornais e televisões com palavras cheias de eloquência balofa, mas com plateia garantida.
Servilismo e comodismo a roçar a cobardia, nada têm de maturidade e responsabilidade cívica, são as letras do nosso fado e da nossa condição de gente humilde.


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