O MEDO


O medo é o único sentimento que nos faz companhia a vida inteira.
Pode ser racional ou inexplicável, tem tantas variantes que cada um de nós tem-no como se do DNA se tratasse. Vai-se metamorfoseando de acordo com a idade, com o meio e a vida de cada um. Os medos de muitos servem de gozo a outros, mas ninguém escapa de sentir outros medos, por si, ou por outros de quem gostam. Os medos físicos são os mais comuns, da doença, do sofrimento, da morte, mas os medos das perdas, das incertezas, da solidão, do desprezo, da indiferença, dos maus tratos, são desconcertantes e dilaceram-nos sempre que nos agarram.
Ter medo não é sinónimo de cobardia, cobardia é não assumir que se o tem, para além de grossa mentira. A sobrevivência é assente no medo e na luta de contornar os perigos que ela envolve. O medo é condição “sine qua non” para se sobreviver, é a luz amarela que a vida lança ao cérebro para dizer que há perigo.
O quotidiano é marcado por uma imensidade de pequenos e grandes medos, desde o chegar tarde ao emprego e criar desconfortos, ao atravessar a rua com cuidado para não ser atropelado, até ao estado de saúde de um familiar chegado que nos preocupa e assusta.
A globalização também adensou os nossos medos, tudo é rápido, tudo se sabe, tudo se vê. Os mais frágeis não resistem e o pânico apodera-se, o medo que é a luz amarela da sobrevivência, torna-se na luz verde para a morte.
O optimismo é um antídoto importante quando o medo toma freio nos dentes, mas atenção, é apenas uma vitória que adia a derrota final.

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