GLORIA A QUIEN HABLA ESPAÑOL
O futebol há muito que deixou de ser um desporto na acepção da palavra. É um jogo que envolve em si um conjunto de emoções que depende de muitas circunstâncias. Trata-se de uma guerra em que os beligerantes utilizam as armas mais primárias: corpo, talento e qualidade colectiva de um conjunto de intérpretes que a cada momento constituem o seu exército.
Os clubes reflectem o espírito da tribo que os alimenta. Quando ganha ou perde, é uma batalha que eleva ou deprime o ego dos adeptos. O clube é um estado de espírito, que congrega personalidades que em muitos casos são antagónicas noutras matérias. Quanto mais periférico, mais a guerra se intensifica. O Porto quando ganha ao Benfica, é a cidade que derrota a privilegiada capital, é o David a derrotar o Golias, é a vitória da minoria sobre a maioria, enfim é o clímax duma região. Quando o Benfica vence, os adeptos rejubilam, mas não como os do Porto, os da Luz são de muitos sítios, não é Lisboa que ganha, é só o Benfica, o Porto quando vence é a Invicta mui nobre e sempre leal cidade do Porto que ganha essa guerra.
Em Espanha com o Barcelona é igual. Mourinho que é um técnico indiscutível, teve uma noite para esquecer, ontem viu outro jogo que nós não vimos. Foi cilindrado pelo rival da Catalunha, muito antes da expulsão injusta de Pepe (70 % de posse de bola para o Barcelona), que lhe serviu de desculpa para a derrota e o seu mau perder. O Real Madrid não tem um único jogador que tenha lugar no Barça (talvez Casillas). Messi demonstrou inequivocamente porque é muito mais completo e influente que Ronaldo. Mourinho definha perante a superioridade do Barça e convive mal com a sua impotência. Em 20 jogos pode vencer 1 e esse já o ganhou. Foi mais humilhado pelo seu comportamento, do que pela derrota. Perder com a melhor equipe do mundo não é desprimor, como técnico da modalidade no final deveria ter homenageado a qualidade superior do seu rival e render-se à evidência. Mourinho não é um amante do futebol, é de si próprio, é um narcisista e perder deixa-o desvairado. Tanto tempo em Inglaterra, pátria do fair-play, não lhe ensinou a regra básica do jogo, glória aos vencedores, dignidade aos vencidos. As suas declarações ficam como um monumento ao mau perder, ferido na alma pela sua impotência, disparou sobre um clube que o prestigiou e que o formou para a função. Mourinho horribilis. É justo que seja punido severamente pela UEFA.
O Porto e o seu técnico conseguiram um jogo invulgar, 1ª parte sem acerto e uma estratégia inapropriada. O adversário teve as oportunidades mais claras e foi para o intervalo a ganhar com justiça. 2ª parte demolidora, com Falcão a ser a star da companhia. Os espanhóis são uma equipe forte no contra-ataque, que se partiu após o empate, obtido à entrada do período complementar. Soberba 2ª parte de uma equipe que se transfigurou e devastou a armada de Castela. Curiosamente, só quem fala espanhol marcou os 6 golos da noite. O Porto ganhou com golos colombianos.
Villas Boas manteve a sua elegância e delicadeza, não embandeirando em arco e prestigiando o seu adversário. Generais devem ter códigos de conduta, que são exemplos para jovens adeptos. Villas Boas teve a glória do vencedor, mas dignificou o vencido. Mourinho nem uma coisa nem outra.
Jesus fiel a si mesmo, disse que tanto fazia ter o Porto ou os espanhóis na final. Outra infelicidade de um general de poucas estrelas. Deveria ter orgulho se fosse o F. C. Porto, mas a tribo não deixa. Os adeptos de ambos podem pensar assim, os generais não, têm de ser dignos do posto.
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