EURO OU NEURO EIS A QUESTÃO
Após a adesão à moeda única, Portugal agravou o abrandamento económico. O país que era insípido no crescimento, perdeu alguns mecanismos que de certo modo amorteciam e mascaravam a nossa baixa taxa de produtividade.
Portugal deixou de poder desvalorizar a moeda, que criava uma competitividade aparente, aumentando as exportações, porém as importações inflectiam no mesmo sentido. Com a adesão, a competitividade só pode ser alcançada pelo aperfeiçoamento do processo produtivo, de forma a ter ganhos de produtividade. O preço a que se vende os produtos e serviços aos clientes no exterior, não pode ser manipulado pelo artíficio da desvalorização cambial.
A política monetária também foi eliminada. Portugal tal como os outros países da zona euro, perdeu a capacidade de emissão de moeda e subsequente injecção de meios monetários na economia, bem como gerir a política das taxas de juro. Todas estas prerrogativas passaram para o BCE.
A acrescer aquelas limitações, o país ficou obrigado ao cumprimento de critérios muito apertados de contenção: dívida pública: 60 % do PIB e défice orçamental não ultrapassar 3 % do PIB.
A Europa do euro, reflecte hoje as contradições da sua génese. Uma união económica e monetária com parceiros em vários estados de desenvolvimento, sem um orçamento comum e perante uma crise financeira de grande envergadura, trouxe ao de cima as fragilidades que hoje se vivem. Países com taxas sobre a dívida soberana na ordem de 20 % (Grécia, já depois do acordo com o FMI, Portugal 12% , antes do FMI e outros com taxas na ordem dos 3 % (Alemanha).
Foi como passar clubes da 2ª divisão do campeonato de futebol para a Liga de Campeões.
Portugal tem tradicionalmente no Estado a locomotiva do crescimento, através das obras públicas. A economia real que consiste na exportação de bens transaccionáveis é amorfa na progressão, agravada pelos aumentos sucessivos dos défices da balança comercial, pois cada vez se importa mais em relação ao que se exporta, impactando no aumento do endividamento externo.
Défice e endividamento externo fora dos parâmetros aceitáveis, associados às limitações da soberania monetária, sujeitam-nos à dependência das condições impostas pelo mercado financeiro internacional.
Recessão e mais recessão é o que nos espera, pois o Estado não alavancará o crescimento por obrigatoriedade de cumprimento do défice e as empresas não disparam na produtividade de um dia para o outro.
O problema para Portugal e outros não é o euro, é a nossa falta de competitividade, que a moeda única desnudou e as políticas de desenvolvimento assentes no agravamento da dívida pública mascararam. Fomos adiando, adiando, mas com euros, escudos ou rupias, chegaria o momento de novo ajuste de contas. Ele aí está. 100 euros para um português equivalem a 50 euros para um alemão, quanto ao poder de compra relativo.
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