INSÓLITO

                                                      ANESTESIA

A sociedade toma conhecimento diariamente de notícias, factos e ocorrências que apesar de insólitos e parecer fazerem parte de um filme de ficção científica, são recebidas com grande naturalidade.

A era global, com o bombardeamento de tudo o que acontece no planeta e não só, insensibiliza de tal forma o receptor da informação, que cada um de nós espera sempre qualquer coisa ainda mais chocante ou surpreendente que nos chega a todo o momento dos media. É um devorar da sensibilidade. Dedica-se segundos a ver tragédias, crimes, miséria e desgraças, que afectam os actores da notícia. É como se víssemos um filme, em que as personagens são apenas personagens. Mas não são, são vidas que ficarão marcadas irreversivelmente pelos factos que originaram os segundos que demos de atenção nos meios de comunicação.

Isto a propósito ou despropósito, das duas notícias que correram nos jornais portugueses: Um ex-banqueiro acusado de desvio de 100 milhões de euros, que prejudicou imensos clientes do banco que administrava,  mas que com toda a naturalidade é um dos gurus, com grande receptividade nos orgãos de comunicação portugueses, em que qualquer opinião que emite no seu blogue pessoal: ARMA/CRÍTICA, é motivo de 1ª página. Essa máxima de até à sentença definitiva, é um presumível inocente, é a conversa que sustenta as impunidades. Passa-se assim também no processo CASA PIA, com condenações em 1ª instância, mas que aguardam as dilações em que a advocacia é mestre, para protelar os cumprimentos das penas.

Só que tem um ligeiro senão, para quem pode atrasa, para quem não pode é célere.

Nos EUA não se passa assim, perante fortes indícios o actor leva com as algemas e aguarda recatadamente numa penitenciária.

Mas em contraponto, as autoridades defenderam energicamente e a tiro, o assalto a uma padaria, em que foram barbaramente surripiados 70 pães.

Isto é o insólito, porque lê-se, vê-se, mas passa...a anestesia é de tal modo potente, que amanhã será outra coisa qualquer a desviar a nossa capacidade de reflexão, porque a sucessão é tão rápida, que se reflectirmos muito, não temos tempo para ler os novos dramas que estão mesmo à mão para  sorver. Só outro senão....quando nos toca a nós, já não é tanto assim...