CASA DOS SEGREDOS

                   ÍDOLOS DE PÉS DE BARRO

Os políticos estão em pânico. Os escândalos sucessivos de que o país vai tomando conhecimento e que vêm à superfície apenas porque os fins justificam os meios, atingiram o clímax.

O que se ficou a saber mais sobre o BPN, é resultado desse ping-pong entre as facções em combate: as cliques do candidato presidente e as do partido do Governo. O que é curioso, é que se servem da mesma instituição para a arena do combate.

Um grupo, ataca a anterior gestão colando-a como correligionária do candidato presidente, que pelo seu lado, já não consegue sair desta embrulhada incólume. Na verdade, o candidato Cavaco Silva adquiriu acções de um Banco de amigos a um preço considerado pelos analistas, como de saldo. Por outro lado, conforme é evidenciado na comunicação mais prestigiada e de acordo com as afirmações de um gestor que lhe é próximo, teve acesso a informação privilegiada no momento da venda.

Soubemos também pelo grupo contrário, que a nova Administração pós nacionalização, comprou acções da Sociedade Lusa de Negócios, proprietária do BPN,  a um accionista que tinha um contrato de opção de venda. Gastou-se nisto, milhões de euros de capital público. O Primeiro Ministro ignorava. Argumentaram que se tratava de um contrato assinado por anterior Administração.

Em suma, declara-se o interesse público para anular providências cautelares de sindicatos que tentam impedir baixas salariais e não se declara interesse público para impedir compras de acções de valor zero,  a accionistas de bancos falidos.

Zangam-se as comadres, sabem-se as verdades. Se não estivesse em jogo interesses eleitoralistas,  muitas destas poucas vergonhas não chegariam à opinião pública, porque os políticos são corporativos na defesa do seu interesse comum: a sobrevivência.

O toque a rebate é dado pelo insosso líder da oposição, que afirma não interessar nada o BPP e o BPN, porque os candidatos são todos muito sérios. Está assustado e tem razão para isso. Se o seu candidato for eleito, conforme as sondagens o indicam, mas que arriscamos a dizer que vai haver surpresa, o Professor parte para um 2º mandato fragilizado demais, para poder ter um exercício com autoridade. Veja-se também o titubear do Professor, ontem dizia que não mais falava do BPN, mas hoje fartou-se de emitir justificações  pouco justificadas.

O poeta candidato também se atrapalhou todo com o BPP e lá se foi a honorabilidade republicana, afinal declarou o rendimento do serviço ao banco também falido, para efeitos de IRS. Calou-se e fez bem, mas é um silêncio ensurdecedor, quem com ferros mata com ferros morre.

O país soube hoje por forma indirecta, da irreversibilidade da chegada do FMI, os juros da dívida pública atingiram 7.2 %, o  que significa que o carro saiu de pista e só rebocado pode voltar à prova.

O candidato presidente diz agora em alta-voz o que nunca disse sequer baixinho, que os governantes têm andado a enganar o país. O que fez ele durante 6 anos? Foi enganado como nós, ou foi cúmplice da trapaça?

Tudo isto enoja o cidadão comum, aquele que ainda pensava que no meio desta porcaria toda, haveria alguns actores que eram os bons da fita. Mentira, afinal por isto ou por aquilo, o casting profissional não apresenta artistas, só tem bandidos.

Como é possível mudar o país, sem mudar quem dirige? Se a administração não funciona e é incompetente, a culpa é do pessoal? No futebol mudam-se os treinadores e as direcções., porque se não depura o sistema?

Se o país fosse consciencializado politicamente, mudava tudo, começava já pelo presidente, dava uma oportunidade a um out-sider da política, nem que fosse como uma atitude de indignação. Mudar o governo é outro dilema, os que lá estão são o desastre que se conhece, os que querem ir para lá, não se lhes reconhece competência. Mas cada coisa a seu tempo.