O Jornal de Negócios elegeu hoje Angela Merkel como a figura mais influente da economia portuguesa. A justificação é a seguinte: “ Quem manda nesta economia intervencionada? O Estado, os políticos, o Governo, Quem manda no Governo? A troika. Quem manda mais ? o FMI, o BCE ou a CE? Resposta: é a Alemanha. Angela Merkel é hoje a pessoa mais poderosa para a economia portuguesa. Porque uma decisão sua nos salva ou aniquila.” A Forbes também elegeu a chanceler a personalidade mais influente do mundo.
Em 2010 a personalidade mais influente de acordo com o critério daquele jornal, muito subjectivo, foi Ricardo Salgado do BES, mantendo-se nos 10 primeiros em 2011 praticamente os mesmos de 2010.
A crise trouxe ao de cima a absoluta dependência do país face ao mercado externo, enquanto financiador do investimento público e défice orçamental, bem como do sistema bancário para facultar recursos à actividade empresarial. A economia portuguesa que assenta em pés de barro, foi subjugada por completo ao endividamento externo, pois não gera recursos para se dinamizar e foi entretanto bloqueada pelo fecho dos mercados ao financiamento do Estado e da banca.
No pós 25 de Abril, o aumento da riqueza patrimonial do país e a melhoria das condições de habitabilidade proporcionada aos cidadãos, não foi resultado do aumento do rendimento (crescimento), foi resultado do aumento do endividamento. Os políticos destes 35 anos nunca consideraram este desequilíbrio a pedra de toque do sistema, quando sabiam que só crescimentos do PIB entre 6 e 9 % poderiam acompanhar o galope da dívida. Sabiam, mas para ganhar eleições e sustentar aparelhos e clientelas, foram passando de uns para os outros.
Só com empréstimos puderam artificialmente criar o marketing do sucesso e de obra feita. Para agravar esta sopa de pedra, o dinheiro emprestado foi em grande parte despendido em realizações que custam muito em manutenções e não produzem resultados indiscutíveis. Quando o Estado encolhe nas obras públicas, o PIB ressente-se brutalmente, porque a procura interna é muito condicionada pelo rendimento dos particulares, pelo desemprego e pela inflação. Por outras palavras, só quando se exporta o que cá se faz, se minimiza o descalabro, mas aqui vem ao de cima o nosso défice de competitividade das empresas. Extrapolando os casos de sucesso conhecidos, vivemos com grandes dificuldades para competir nos preços e na qualidade, com concorrentes muito mais capitalizados e com outra capacidade de investimento em modernização.
Aqui chegamos ao desconforto para não ser mais acintoso, de a personalidade mais importante da economia portuguesa, não ter nada a ver com Portugal, uma política alemã, muito pouco carismática, que voga ao sabor de tácticas circunstanciais e com discursos pouco consistentes, de forma a não hostilizar os eleitores de que depende.
O último político português a liderar este ranking, caso ele existisse à época, foi Salazar. A partir daí o centro de decisão da economia portuguesa, passou para os credores. Quando estes entendessem que era o chegado o tempo do stop, viria o descalabro, como veio.
Para nós a entidade mais influente na economia portuguesa, não é Merkel, não tem rosto, são os mercados.
Merkel não tem autoridade nem capacidade para substituir os mercados por longo tempo. A troika é o instrumento que tenta credibilizar o país para que os financiadores se interessem por Portugal, mas não faculta os meios para o relançamento da economia, é um colete de forças para disciplinar os gastos públicos, é o rosto da austeridade. Quanto mais austeridade indiscriminada, maior a recessão, quanto maior a recessão, maior a incapacidade de pagar aos credores.
O controlo do défice público é imprescindível, mas afectar toda a economia por medidas de contracção, resultará na renegociação da dívida e saída do euro. Lagarde a responsável pelo FMI, já advertiu sobre o erro estratégico que está a ser cometido na Europa. O Governo segundo a lógica neo-liberal, sobrecarrega a sociedade com uma carga fiscal e aumento de preços incomportável, como se fosse possível corrigir os dislates de tantos anos, em 3 ou 4. A receita já não suporta mais incrementos, a correcção teria de ser pelo lado da despesa e não depauperar o rendimento privado disponível já por si muito debilitado. Esta política vai dar fiasco e a curto prazo ver-se-á.
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