A pedido de vários leitores que se interessam por estas
coisas do mercado de capitais, vamos conforme diz um amigo nosso, dar uns
bitaites, que não passam disso mesmo.
Desde 2008 as bolsas são diariamente escaparate dos
noticiários de todos os meios de comunicação. A predisposição para a desgraça é
sempre muito maior do que para as coisas boas, daí quando há quedas acentuadas,
as notícias são a vermelho carregado e top de página. O cidadão comum olhava
para as notícias sobre os mercados financeiros com desinteresse e passava a
frente, pois era matéria de especialistas da especulação. Assim se passou até
à falência do Lehman & Br. um banco americano de investimento de tal
envergadura, que lançou o mundo numa crise financeira de contornos ainda
indeterminados.
Em Portugal vivia-se ainda a euforia da invulnerabilidade
à crise mundial. A inversão da teoria deu-se com a débacle do Banco Privado e
as trapalhadas do BPN. Directa ou indirectamente, os cidadãos menos
familiarizados com a alta finança começaram a sentir que o tempo ia mudar,
vinha aí tempestade....e veio.
Vários posts que temos publicado ao longo destes 3 anos,
dão especial ênfase ao factor premonitório dos mercados. As bolsas antecipam
sempre movimentos da economia, valorizando as expectativas de ganhos ou perdas
de rendimentos das empresas, que por si também resultam da capacidade da
sociedade no seu todo em produzir e consumir bens e serviços, no fundo o famigerado crescimento, que resulta em: mais rendimento = mais investimento= mais emprego
= mais produção=mais mais consumo=mais lucros.
Esta simples operação que só usa o sinal +, é digamos de
um forma simples, a essência da subida ou descida das acções. Não é preciso
ser-se licenciado, para se antever que perante a política de austeridade que o
país atravessa, o consumo inflectirá e as empresas mais dependentes do mercado
interno, terão fortes reduções nos resultados (dividendos), os investidores preferirão outras alternativas de menor risco para as aplicações de capitais. A título de
exemplo, veja-se o comportamento das acções da Sonae, que estão a sofrer
consecutivas desvalorizações resultado da antecipação de perdas futuras pelo
factor contraccionista que a austeridade implicará.
A bolsa nacional que é tão pindérica como nós somos no
contexto europeu, 2 % da U.E, é a nossa imagem: desorientada e desmoralizada,
que a qualquer subida pronunciada no exterior, responde com uma subida moderada
e a qualquer queda nos EUA e na Alemanha, estatela-se.
O gráfico cor de rosa que é o índice nacional, demonstra-o
inequivocamente, no valor mínimo de quase 10 anos. 13.000 pontos em 2007 e
5.700 em 2011. É como se as empresas cotadas no seu conjunto perdessem valor em
cerca de 60 % nos últimos 4 anos.
Devastador para o mercado e para os fundos que apostaram
nas acções portuguesas.
Se analisarmos o comportamento dos títulos da banca, a
coisa ainda está pior. A análise das cotações dos bancos deve ser mais
cautelosa, pois aumentos de capital reflectem-se em cotações não homogéneas-
incorporações de reservas, redenominações de capital e aumentos de capital a
preços variáveis, reflectem-se nas cotações. O caso do BES é paradigmático, as
acções valiam cerca de 20 euros em 1997 e agora 1.86 euros. Não se trata de uma
desvalorização entre aqueles montantes, pois teve aumentos de capital com
atribuição gratuita de acções que baixou o preço médio das que ficaram em
carteira.
De qualquer modo a perda de valor do BCP, BES e BPI é
fortíssimo e reflecte as dificuldades que aquelas instituições têm para
rendibilizar os capitais e a insuficiência de recursos para alavancar a
actividade interna e externamente. Estão prisioneiros de muitos obstáculos:
1º- Incapacidade de se financiar no mercado
2º- Crédito mal parado significativo
3º- Recursos substanciais aplicados na compra da dívida
soberana portuguesa.
4º- Limitações impostas à concessão de crédito e como
consequência contracção no negócio operacional.
5º- Necessidade crescente de recapitalização para
responder aos compromissos e às dificuldades dos clientes dos sectores mais
vulneráveis.
O mercado já antecipou todos estes factores, apesar de
alguns deles só atingirem o climax em 2012 e 2013.
Mas nem tudo são más notícias. Se o BCP se desvalorizar
mais 50 % estamos a falar de 9 cêntimos,
quando há 3 anos atrás, 50 % de desvalorização correspondia a uma perda
de 2 euros. O que significa isto ? Que se ocorrer a falência grega, o risco é
global, nesse preciso momento as autoridades deverão encerrar os mercados, sob
pena do colapso planetário ser coisa de Sodoma e Gomorra. Se tal ocorrer poderá
comprar BCP a 4 escudos (2 cts.) e o BES eventualmente a 20 cêntimos. Portanto
escolha o momento, mas a 4/5 anos vai multiplicar por 5 o que gastar agora. É
um palpite, vale o que vale, mas depois falamos...
Caso contrário, nem o dinheiro que tiver no colchão lhe
valerá de muito...
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