PANICOCRACIA

As bolsas europeias tiveram um dia de pânico, com perdas a fazer lembrar o dia do default do Lehman & Brothers, que continua a ser o marco histórico do explodir da crise financeira global. Em Portugal o afundamento foi de 4,28 %, numa sessão em que o BCP perdeu mais de 7 %, continuando sucessivamente a bater mínimos históricos . A Grécia foi a recordista das perdas, com a bolsa a cair 7.86 %. Milão e Madrid compuseram o ramalhete da derrocada.
Os mercados financeiros não acreditam na resolução da crise da dívida nos países europeus já intervencionados pelo FMI, bem como antecipam a chegada de novos membros ao clube dos que terão de recorrer à ajuda externa: Itália e  Espanha para já. Como já referimos muitas vezes, Atenas e Lisboa são portos de escala e não de destino.
O conhecimento público de que o défice orçamental da Grécia aumentou cerca de 28 % no 1º semestre de 2011, com a despesa a aumentar 9 % e a receita a cair 8 %, maior cepticismo trouxe à estratégia de solução desenvolvida pelo FMI, agravada com o impacto dos juros dos empréstimos que absorve um terço dos recursos da ajuda. Os gregos estão completamente encurralados o que sucederá de seguida a Portugal.
A enormidade da dívida é incompatível com os planos previstos nos acordos, sem que lhes esteja subjacente a destruição de milhares de postos de trabalho, uma recessão da economia sem precedentes e por fim um futuro sem esperança.

                    


A película Dividocracia apresentada ontem pela Sic Notícias, é um excelente documento a merecer profunda reflexão sobre a legitimidade dos sacrifícios que estão a ser impostos às sociedades de países em dificuldades, sem que seja feita uma auditoria rigorosa ao crescimento da dívida pública, para avaliar as origens e aplicações de fundos e se resultaram de utilizações fraudulentas com a conivência dos credores.
O caso dos submarinos em Portugal é paradigmático, assumir uma dívida de mais de 1.000 milhões para aquisição de 3 submarinos num país em risco de bancarrota, negociado com contrapartidas com empresas privadas alemãs, pode ser tudo menos transparente. A auditoria tem por fim avaliar a legitimidade da dívida pública e naquilo que ficar provado que  resultou de actos premeditados e  danosos para o país, com o conhecimento e participação dos credores, ela deve ser considerada “dívida odiosa” sendo legítimo o seu não reembolso.
Foi assim no Iraque, com a dívida contraída no tempo de Sadam, foi assim no Equador, foi assim em Cuba.
Portugal assistirá a breve prazo à turbulência da vida grega, falências em catadupa, mais 100.000 desempregados nos próximos 2 anos a somar aos perto de 800.000 já registados oficialmente, aumento da inflação em cerca de 3.4 % e queda do PIB de 2 % em 2011 e perto disso em  2012. 
 A União Europeia começa a dar sinais de preocupação séria com a situação grega, porque a avidez dos mercados americanos para a eliminação do euro como moeda de refúgio, parece não ter limites e dá sinais de ameaçar a Itália e a Espanha, depois de ter derrubado Portugal. O Eurogrupo aprovou ontem medidas de aumento da maturidade dos empréstimos no âmbito das ajudas do FEEE, bem como a descida nas taxas de juro, de forma a suavizar o impacto nas economias dos países em risco de incumprimento. Mas como tem sido normal, a U.E reage a reboque e tarde, quando o vírus se tornou já epidémico. Perdeu a iniciativa e em vez de prevenir aos primeiros sinais, tanta agora remediar de uma forma atabalhoada e sem uma política concertada.
A sensação com que se fica, é a de que se não sabe quem comanda e quem define a política financeira europeia, a não ser umas reuniões em Bruxelas entre os representantes dos estados membros,  a discutir a correr as medidas a tomar para os dias mais próximos. Pobre Europa que não merecia esta Alemanha com o seu habitual complexo de superioridade e uma França sem brilho nem “humanité.”



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