A apresentação do programa do governo na AR foi um show de insensatez. O Primeiro Ministro ufano de transparência, iniciou os trabalhos com a quebra de um compromisso assumido por si , que foi o de perante a necessidade de reajustamentos para controlo do défice, não sacrificaria os rendimentos de trabalho, optando por agravar a carga fiscal sobre a despesa. Quando o questionaram em plena campanha, sobre a possibilidade de tributar o subsídio de Natal, considerou isso um disparate. Se em plena campanha tivesse admitido essa hipótese, eventualmente teria perdido muitos votos.
O discurso do Ministro das Finanças veio dar razão aos que dizem que o Dr. Gaspar daria um bom Secretário de Estado do Orçamento, mas não um bom ministro das Finanças. Limitou-se a evidenciar o que já sabíamos, por isso é que foi para lá, um discurso voltado para a Contabilidade Pública, sem uma componente política e sem palavras de esperança. Parecia um membro do FMI. Os mercados estiveram várias vezes na sua prelecção, o diagnóstico foi uma censura aos anteriores governos e aos portugueses em geral. Dois anos de recessão, desemprego e muita desgraça. Nada sobre estímulo da economia, nada sobre o relançamento do emprego. O Estado foi na generalidade diabolizado, antecipando a venda de tudo o que for de vender e de dar o que não interessar manter. Nada de estímulo para o Sector Público que cumpre a sua missão com dignidade e interesse social.
A coberto da rede que o governo socialista lhe proporcionou, o novo governo não tem qualquer pejo em arrancar com uma medida que negou em campanha, atacou o rendimento do trabalho e investe sobre 3 milhões de portugueses. Justifica tudo com a herança, não ensaiando outras soluções mais criativas.
O Dr. Passos está a laborar num erro de avaliação, a maioria parlamentar não será suficiente para suportar as medidas que discricionariamente pretenda implementar, se as mesmas não forem coerentes e justas. O PS está atónito e sem estratégia, pelo complexo de culpa que respira por todos os poros. O Governo pretende ir mais além do que as medidas acordadas no memorando com a troika., pretende ser mais papista que o papa, no castigo a infligir aos portugueses.
O Governo nesta primeira investida, indicia uma lógica contabilística sem uma componente política que é fundamental para ressuscitar o ânimo nacional. A oposição está enredada nas suas teias e fragilidades e foi incapaz de exercer o contraditório com coerência.
Saímos de um regime de políticos sem ciência económica, para um outro, que parece de contabilistas sem ciência política.
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