À RASCA




Imagine que você ganha por mês 1.500 euros,  que somado ao da sua mulher, o agregado consegue 2.500 mensais. Agora admita que tem de pagar 3.500 euros com gastos mensais, que inclui: alimentação, colégio, vestuário, prestação da casa e carro. Oh diabo, temos problema. Das três uma, ou todas juntas: aumenta o rendimento, diminui os gastos ou pede emprestado. A sua situação a prazo é insustentável, se continuar a apresentar um desequilíbrio consecutivo. O aumento do rendimento no seu trabalho depende de condições que normalmente não controla, os gastos são o seu ponto de autoridade, mas mesmo aí tem limites, para não ceder nas condições de vida a que habituou o agregado. O pedir emprestado para pagar dívida, vai fazer com que não durma muitas noites. Não lhe resta outra solução para além de emagrecer os gastos, até ao limite do que o agregado ganha mensalmente. Se por qualquer razão, perde rendimento (desemprego de um dos cônjuges), então temos colapso.
Quer queira quer não queira, a família tem de se ajustar, voluntariamente ou forçada. Quem lhe estava a emprestar sucessivamente para financiar o seu défice, avisou-o de que não há mais crédito. Os juros que paga para financiar a sua falência mensal, consomem já grande parte do rendimento do agregado. Se as taxas de juro aumentam, incrementa-se a necessidade de dinheiro para o pagamento de dívida e menos dinheiro disponível para os gastos do dia a dia,  cada vez tem menos recursos para viver e cada vez deve mais.
Tudo isto para demonstrar que o que se passa em Portugal e com a sua dívida pública, é exactamente o percurso exposto.
O rendimento do país é de há muitos anos insuficiente para cobrir os gastos, recorrendo-se sistematicamente aos empréstimos para financiar os gastos e mais grave ainda, para pagar dívida anterior, ou seja empréstimos para pagar empréstimos.
A única diferença, é que os responsáveis podem sair do agregado por vontade própria , ou são demitidos (eleições). Por outras palavras, podem-se livrar do problema, passando-o para outros, você não.
Os políticos nunca tratam um agregado (país) como uma família que se deve adaptar aos rendimentos, só têm uma lógica, esbanjar para ganhar votos e pregar que fizeram isto, aquilo e aquele outro, nunca dizem que para isso aumentaram a dívida que no futuro se torna tão insustentável como a sua, ou seja os mercados que emprestam começam a duvidar que possam receber o que emprestaram.
A perversão da democracia é essa, se o discurso for de contenção, de equilíbrio de moderação, quem o diz perde eleições. Ganha quem promete o inferno. A sociedade só percebe no seu todo, quando o drama entra pela casa dentro. Os erros da macroeconomia, pagam-se duramente na microeconomia. 

Sem comentários:

Enviar um comentário