ANGOLA

                                                          AINDA

Luanda, 04 de Março 2011

-Vasco já foi à Conservatória, buscar a documentação?
-Dr. ainda.
O ainda de Angola é o nosso “ainda não”. Têm razão, para quê o “não”? É um reforço desnecessário.
Isto a propósito, das diferenças entre iguais. De política não falo, pois não é elegante abordar matérias de soberania, num país de que sou hóspede. Falo do meu, pois tenho legitimidade, aí é que vivo, voto e tenho número.
Saído de uma guerra devastadora há muito pouco tempo, em que tivemos responsabilidades incontornáveis, as relações de confiança com o ex-colonizador ainda não são incondicionais. O investidor honesto, que tenta rendibilizar capitais de uma forma justa, é penalizado pela imagem de usura de outros que vieram, de que também infelizmente não faltam exemplos. A lógica errática de considerar mercados menos eficientes, como destino de produtos de 2ª linha, sem uma preocupação fundamental de assistir ao funcionamento do que se vende, é outro factor que descredibiliza o exportador e os seus representantes.
Não vale a pena transferir o nosso stress, para uma realidade diferente da nossa. Não vale a pena ligar o complicador, para situações em que os angolanos já descobriram simplificadores.
Contra o que se possa pensar, existe já uma densidade de quadros em serviços públicos, instituições financeiras e privadas, com um nível de conhecimentos e atendimento, mais eficientes que em muitos casos em Portugal.
Como é evidente numa sociedade muito jovem, há falta de técnicos e quadros superiores, mas é visível o esforço colectivo para suplantar esse défice.
A grande concentração demográfica na capital, é um problema relevante, pois a deslocalização é de uma lentidão inimaginável. Esse é um dos maiores desafios que se colocam à sociedade angolana, a rede viária, pois a actividade económica sai muito fragilizada pela dificuldade de movimentação de pessoas e bens.
Estar em Angola, em muitos aspectos é como estar no Brasil, falam como nós, com um sotaque particular, gostam da nossa comida, em qualquer “corner” há portugueses, vibram com o Porto, Benfica e o Sporting, enfim, sente-se Portugal colorido.
É demasiado cedo para que as feridas da colonização estejam cicatrizadas, com o tempo e da nossa parte com uma política económica ajustada, que encare este mercado como destino do que melhor se produza em Portugal, com preços justos, prestaremos um serviço importante e beneficiaremos as empresas portuguesas e a sociedade.
Compete-nos não vender apenas o peixe, mas enviar canas e ensinar a pescar. Portugal deve participar activamente na formação e criação de infra-estruturas de produção. Temos uma tradição de integração no mundo, que nos ajuda a interagir bem em meios sociais e culturais diferentes do nosso, Angola não é o caso, pois tem muito da nossa raiz, com as diferenças que lhe dão a sua própria personalidade. Nada é fácil, mas de certeza que valerá a pena.   
A política de despejar contentores de bens transaccionáveis sem critério, só para aligeirar stocks do que se não vende em Portugal, é o pior serviço que se pode fazer para dignificar a marca Portugal. Vender para cá, significa estabelecer uma relação de confiança, que começa onde a maioria pensa que acaba. Quem consegue criar esse vínculo através de uma eficiente assistência pós venda, ganha credibilidade e conquista um parceiro.


1 comentário:

  1. "A política de despejar contentores de bens transaccionáveis sem critério, só para aligeirar stocks do que se não vende em Portugal, é o pior serviço que se pode fazer para dignificar a marca Portugal."Penso que este tipo de negócio, do enganar, do Chico espertismos está em vias de extinção. Sei, acredito que os negócios vão se fazer na base de Ambas as partes ganham crir uma base de confiança. Seja aqui, seja em qualquer parte do mundo.Daniela

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