O mundo árabe tem vivido nas últimas semanas, movimentos sociais absolutamente impensáveis há 10 anos.
A alteração do quadro geoestratégico adveniente do fim da União Soviética, criou uma nova realidade, que se estrutura cada vez mais na luta pelo domínio económico, em alternativa ao modelo do tempo da guerra fria, que assentava no temor de novo conflito mundial, que tempos a tempos se incutiam nas sociedades do mundo livre. A própria China, denominado o perigo amarelo, colaborava com essa paranóia global, ora alinhando por um bloco, ora alinhando pelo outro, conforme as conveniências tácticas do momento.
Tudo se transfigurou e o terreno do combate entre as superpotências, passou para as mais diversas áreas da economia, em que as armas são muito sofisticadas e as vitórias não se avaliam pelo número de baixas e conquistas de território, mas sim por quem produz mais riqueza e quem mais acumula recursos.
O epicentro desta crise no mundo árabe, tem como linha comum ocorrer em países com ditadores, que em momentos de dificuldades eram apoiados pelos blocos, em que se inseriam. Qualquer movimento popular de tentativa de alteração do regime, era visto como intromissão de poderes externos e suscitava o auxílio da superpotência protectora.
Agora isso não acontece e perante a ausência de sistemas democráticos, que servem de válvula de escape à pressão social, falta aos regimes agora postos em causa, autoridade moral para poderem exercer represálias maciças, que de imediato passam nas televisões de todo o mundo.
De cedência em cedência, denunciam a fraqueza que a muito curto prazo se lhes torna fatal. Veja- se o exemplo do Egipto, com o poder a tentar ridiculamente transmitir um controlo, que perdera irreversivelmente na rua. Nenhum aliado de 30 anos, apoiou o poder que se ruía, apesar de se terem servido de Mubarak como um chefe moderado, que contribuía para a “détente” e que pagava férias a líderes europeus. Mas tinha o pecado original que nos tempos actuais impedem qualquer ajuda; não era um produto da democracia, ainda que simulada.
A democracia legitima a violência como defesa da ordem pública, a ditadura não, é um sistema muito fragilizado e sem dúvida, um regime de séculos passados, completamente demodèe e que vai evoluir para formas mais sofisticadas de poder.
ditador democrata |
Os ditadores têm os dias contados, se não modernizarem as suas fórmulas de legitimação.
ditador democrático |
A própria China terá de se ajustar, pois não é um oásis para a esmagadora maioria da população e os movimentos sociais podem implodir.
O sufrágio universal é a forma mais subtil de eleger ditadores democráticos; Chavez na Venezuela, é um bom exemplo, tal como Ahmadinejad no Irão.
Se pensarmos que um presidente pode ser eleito por maioria absoluta, com 25 % de votos da totalidade dos eleitores e ter toda a legitimidade para representar os outros 75 %, está tudo dito. Aconteceu em Portugal, mas não é caso único. A democracia é o regime menos imperfeito, mas sem dúvida que também propicia aberrações políticas, possibilitando inclusive a legalização de poderes pessoais.
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