EGIPTO- A CAMINHO DO PARLAMENTO



A situação aqui no Cairo cada vez está mais quente, o calor é imenso e nestas idas e vindas, não há desodorizante que resista. Trouxemos daquele que até faz os anjinhos perder a compostura e nem esse nos vale. A complexidade dos aromas no meio deste mar de gente é de tal natureza, que perdemos a noção do que é perfume e do que é pestilento. A osmose é sublime, é como misturar Aqua di Parma com óleo fígado de bacalhau. Nestas circunstâncias o olfacto é um sentido bem dispensável...
Mas a animação foi fantástica. Hoje alguém se lembrou de ir até ao PARLAMENTO e lá fomos todos.
Levamos a bandeira nacional, como se fossemos para um jogo da selecção, toda a gente nos chamava RONALDO e era com orgulho que retribuíamos o cumprimento.

A caminho do Parlamento
É muito agradável quando estamos no estrangeiro, alguém se lembrar de um compatriota nosso, que da lei da morte se tenha libertado. Sempre que pronunciavam “RONALDO, RONALDO”, sentíamos um arrepio pela espinha, outros, mas poucos, também nos chamaram “SÓCRATES, SÓCRATES” e não vale a pena mentir, também sentimos um arrepio...
O que íamos fazer ao Parlamento ninguém sabia, mas também não era importante, depois percebemos, foi para deixar limpar a Praça Tahir, que estava imunda daquele estendal que já dura há 15 dias.
Disseram que ao fim da tarde já podíamos voltar. É bom, porque a malta já se habituou ao sítio de cada um e é como voltar a casa.
A caminhada até ao Parlamento foi a animação do costume, novos e velhos, mulheres, muitas delas já sem o keffyeh, pois o calor era muito e nós com a nossa bandeira, lá fomos também. Fomos de chinelos, porque ainda tínhamos os pés inchados das andanças do dia anterior.
Paramos algumas vezes para conversar e tomar um chá. Toda a gente traz garrafa termus com chá e é bonito ver as pessoas a trocar chá de cidreira, por chá de  tília e outras permutas, sem interesse material. Como não levávamos nada, todos os nossos camaradas manifestantes nos davam chá. Sem exagero provamos mais de 25 espécies diferentes. O percalço foi que de 10 em 10 minutos perdíamos o contacto com a cabeça do pelotão, para despejarmos algum chá...

O apoio sensato, mas desnecessário

Tudo decorria neste ambiente de RAVE, quando um egípcio aparece com um cartaz em que, passe a imodéstia, incentiva a multidão a que sejamos o próximo presidente.  Um cartaz com a minha foto e os dizeres em estrangeiro “ESTALINE TO PRESIDENT”, GUEST traduziu de imediato e disse-me que o cartaz tinha escrito em português: "ESTALINE PARA PRESIDENTE”. Não é que ficasse muito surpreso, sou sincero, o que lamento é que só somos reconhecidos no estrangeiro. "Santos ao pé da porta não fazem milagres". É pena este provérbio anti-patriótico, pois são sempre os estrangeiros que vão aproveitar o nosso saber e experiência. Veja-se os casos do Dias Loureiro em Cabo Verde e do Armando Vara em Angola.
Aqui sim, foi o cabo dos trabalhos, a multidão rodeia-nos, olha-nos desconfiadamente, alguns giravam muito à nossa volta, olhando-nos de cima abaixo, com a nossa bandeirinha ao ombro. Eu e o GUEST pensamos o pior.
Até que um grita desabridamente....”....YES ESTALINE TO PRESIDENT...” A partir daí então é que a festa foi de arromba. Era chá, era Mateus Rosé, sandes de queijo da serra de Alexandria, morcela de Luxor, trutas fumadas do As-suão e sei lá o que mais de mimos regionais.
Hoje é impossível escrever mais, estamos que nem abades dos faraós. Amanhã se verá. Vou criar a página de amigos de Estaline a Presidente no FACEBOOK


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