CNN



A CNN deu grande relevo às crónicas dos nossos enviados especiais ao Egipto, pois considerou-as as mais genuínas e autênticas  de todas quantas foram sendo enviadas daquele país do Médio Oriente.
Chegada ao Cairo
Pela distinção que é reconhecida a profissionais desta casa, o JRW publica um extracto da referida entrevista da CNN a David Estaline e Pedro Guest.
CNN- As v. reportagens foram muito apreciadas no ocidente. Tinham já experiência anterior?
ESTALINE- Ora bem, não somos propriamente novatos. Já tínhamos feito reportagens de concertos na Casa de Serralves, no Rock in Rio, estivemos nas manifestações de professores, que teve quase tanta gente como a Praça Tahrir, isto para falar em Portugal, no estrangeiro, já fizemos reportagens do Carnaval na Ilha da Madeira que também tem muitos populares.
CNN- De quem partiu a ideia? Vocês não pertencem a um grande orgão de comunicação e estas coisas ficam caras...
E- Só foi possível com a ajuda dos patrocinadores e me desculpem a publicidade, mas
foram os nossos amigos da Pasta Couraça, Petróleo Químico Nally e da Juvénia, que possibilitaram a nossa deslocação.
CNN- Qual o  clima que se vivia no Cairo?
GUEST- Muito calor. Cerca de 38 graus. Quente, muito quente.
CNN- O clima social...
E- Bem para isso não tivemos tempo. Como devem compreender a nossa acção era mais no terreno. O social praticamente  foi só no SPA do hotel. Como viram andávamos de metro e transportes públicos, não deu para mais...mas deu para perceber que havia muito social e com boa figura, mas licor é licor...serviço é serviço...

GUEST- Não é licor, é conhaque...
E- Ai sim? Antes queres conhaque? Eu peço, espera mais um bocadinho...
CNN- Mas nas vossas reportagens via-se que interagiam com a população.
Guest
E- É verdade, internamente intagimos connosco e  interexternamente intagimos com a população, até porque tínhamos de dar os panfletos dos patrocinadores.
CNN- Sentiram a revolta latente?
E- No princípio sim. Fomos sem subsídio de almoço, nem direito a horas extra e sem abono para despesas. Depois vimos que o melhor era esquecermos isso e usufruir do ambiente e da viagem ao antigo Egipto. Tão cedo não se repete...
CNN- A queda do regime era o objectivo das manifestações. As conversas na Praça Tahrir, versavam isso?
Os repórteres em acção no Egipto
E- Ora bem, as conversas eram muitas, mas a gente não percebeu uma só que fosse. Falavam em estrangeiro e nós não criamos nenhuma objecção nem nos manifestamos. Mas se queriam a queda do regime, isso não deu para certificar. Aliás nem vimos o regime. Tentamos, mas não conseguimos. Fomos às pirâmides, perguntamos a várias pessoas onde ficava o regime, ninguém conhecia. Portanto salvo melhor opinião, isso foi um rumor que não passou disso mesmo, para desviar as atenções. A razão era outra, queriam um novo governo. Isso sim.
CNN-O que vos pareceu Mubarak?
G- Pareceu-nos bem. Aliás até olhando para a idade dele, está muito bem.

Guest e Estaline com Mubarak
CNN-O povo clamava por reformas...
E- É natural. O povo tenta tirar proveito destas situações. Havia juventude na casa dos 25 - 30 anos, a reclamar pela reforma aos 35. A Grécia dava a reforma aos 55 e teve problemas. O exemplo do presidente não ajuda nada a essa reivindicação, pois com 84 anos e ainda trabalhava muito, mas é natural que a idade da reforma baixe alguma coisa.
CNN- Diz-se que o fundamentalismo islâmico poderá estar por detrás deste movimento.
E- É provável, mas nós não o vimos. Vimos muita gente anónima e até poderia ser que ele estivesse lá camuflado de manifestante, mas concretamente a ele não o vimos, até porque ter-nos-iam informado e aproveitaríamos para o entrevistar.
CNN-Recearam pelas vossas vidas?
E- Recear recear propriamente dito, não, mas temer, ai isso tememos.Quando me propuseram para presidente, apesar de achar que estava preparado, tive um atemorizamento que é normal, pois a única vez que tinha sido proposto para presidente, foi da comissão de moradores da rua da Constituição e perdi. Fiquei um pouco traumatizado e veio-me à memória aquele momento.Mas recompus-me rapidamente.Eu estava disponível para assumir as minhas responsabilidades naquele maravilhoso país do médio.
CNN-O que será o futuro, na v. perspectiva?
E-É uma incógnita. Tanto pode ir num sentido, como o inverso também é possível. O que penso é que o nosso trabalho foi digno, se o jornal nos quiser manter nos quadros terá de fazer um pequeno ajuste salarial, dar telemóvel e um xis para representação. Não é pedir muito, é o que é justo.


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