“Que chatice…aqui no meio desta trupe…” – pensamento de Giza, na estação do metro da Trindade, enquanto esperava a ligação que a levasse até Fonte do Cuco, onde habita um pequeno T1, que comprou com os honorários dos programas do Herman e de outros, em que se despia e se sujeitava ao ridículo, mas que dava algum dinheiro…
A estação estava apinhada, para os regressos a casa, após o dia de trabalho, com gente à espera dos comboios de superfície, que só raramente vão pelo subsolo… Do outro lado, no cais do que segue para o Dragão, estava um homem absorto nos seus pensamentos, meio cabisbaixo, com o Metro debaixo do braço, fato cinzento de outlet, camisa sem aprumo e gravata a condizer. No seu vaguear de olhar sem ver, cruzou sem atenção especial, a mulher que estava do outro lado do cais, que também o descortinou no meio de cabeças, que só a espaços lhe concediam pequenas clareiras que abriam o campo de visão. O eng.º mecânico Zé Lopes, desempregado, já lá vão 4 meses, sem grandes motivos de alegria nos últimos tempos, pausou então o olhar naquela mulher de cerca de 50 anos, mais 10 do que ele, que lhe deu um sorriso um pouco discreto, mas de qualquer modo um sorriso.
Giza adivinhava-se que quando jovem, foi uma mulher bonita e de físico impressivo, pois ainda agora, anteviam-se umas pernas bem desenhadas e fartas coxas, debaixo de uma saia um pouco curta para a idade, mas sem ser ostensiva. O implante mamário, estava à vista, pois o decote era propositado para que se percebesse. Em síntese uma mulher madura, mas ainda em muito bom estado. Ela sabia-o, pois não teve qualquer inibição de fazer o seu charme a um homem com menos 10 anos.
O eng.º Zé, divorciado, chegado ao Porto à 25 anos para estudar, oriundo da Lourinhã, sempre foi pouco afoito a conquistas, tímido por índole, recatado, passou pelo casamento muito rapidamente, pois a mulher incompatibilizou-se com a monotonia do temperamento do marido e após 2 anos de enlace, desenlaçou-se para se entrelaçar com um colega de trabalho, ela era hospedeira da CP e enamorou-se por um bilheteiro da companhia, Zé a partir daí, sempre viu no sexo oposto, algo de pouca confiança, aliás passando a seguir os conselhos da mãe, que sempre o advertiu sobre as moças da cidade, que seriam mais para passeio, que para a grande viagem.
Como a grande viagem do Eng.º Lopes foi interrompida abruptamente pelo malfadado bilheteiro, a partir daí até o passeio foi posto de lado. Levava uma vida muito insípida, a sua maior emoção, era ir à Fnac ao sábado à tarde e à Casa da Música, sempre que havia um concerto de música clássica, os bilhetes eram baratos e o subsidio de desemprego, não dava para mais. Como teve de vender o corsa, o transporte público era o recurso, particularmente o metro.
Olhou novamente Giza e desta vez afoitou-se, sorriu sem inibição e ela correspondeu com um sinal, para ele mudar de cais e vir ao seu encontro.
Lopes anuiu com a cabeça e desceu as escadas para ir ao encontro daquela mulher, que já não sendo jovem, tinha um belo porte e um sorriso atraente. Algo lhe dizia que a vida dele ia mudar……e mal ele sabia como ia mudar…
“Boa noite, desculpe a ousadia, mas...”, arremete o eng.º educadamente e com algum receio de uma rejeição, pois a autoestima não é sentimento que lhe seja muito comum...
“ Boa noite, se é que com esta confusão toda, a noite comece bem...”, respondeu gracejando Giza, mirando Lopes bem nos olhos, plena de autoconfiança, que de imediato hierarquiza o domínio no contacto.
“Tem toda a razão, está de regresso a casa?”
“Vamos ver...estava, agora talvez não...”- ataca a loira oxigenada, com alguma sedução, sem perder a feminilidade.
“Mas, porquê? Aconteceu alguma coisa para alterar os seus planos ?”- resposta carregada de ingenuidade e preocupação, que de imediato fez reflectir Giza, sobre se estaria perante um imbecil...
“Ó homem, o que quis dizer, é que se me convidar para um café, adio o regresso...”- dispara Giza algo contrafeita.
“ Zé Lopes, um criado ao seu serviço...”- salvou Lopes, com a delicadeza do cumprimento e o sorriso transparente...
Giza, percebeu de imediato que estava perante um homem de bom trato, sem esquemas, pouco experiente na arte da conquista, bom aspecto físico, mas um pouco desleixado. Optou por não ser demasiado expansiva, deixando que Lopes fosse tomando a iniciativa, para não o inferiorizar.
Toca um telemóvel, era o de Lopes, meio atarantado, tira-o do bolso do casaco, um Nokia de 1990, tamanho xl, pede desculpa a Giza e fala alguns monossílabos, Giza divertida com o atrapalhamento de Lopes, faz-se distraída, mas entendeu que era a mãe.
“Desculpe, era a minha mãe. Ainda não me disse o seu nome...”
“Quem a sua mãe???”
“ Não, a menina....”, retorquiu Lopes.
“ Ah....Giza Gomes.”
“Prazer menina Giza”- disse Lopes, cumprimentando-a com um aperto de mão.
Refira-se que Giza vivia uma situação embaraçosa, pois teve uma relação marital com um cidadão francês, que se envolveu em negócios obscuros, relacionados com moeda falsa, que acabou por a atingir, pois foi sentenciada com 3 anos de prisão, mas com pena suspensa. Trabalha actualmente numa casa de artigos religiosos na R. Das Flores. Ao ver Lopes, logo imaginou que seria o companheiro ideal, para recompor a sua imagem social e não só....“ "Vamos tomar um café, podemos ir aqui perto ?”
“ Claro, tenho muito gosto.”, disse Lopes
Lá foram, falando sobre aspectos da vida de cada um, mas ocultando aquilo que os pudesse comprometer, ela, a pena suspensa, ele, o desemprego.
Para uma mulher que viveu uma vida sempre de expedientes, trabalhar com horários e ordenado certo, mas baixo, consome-a, estava habituada a luxos, a roupa de marca, bom carro, férias nas Caraíbas e bons restaurantes. A vida actual é um inferno. A única relação que mantém com alguma assiduidade, é um diplomata francês, de 65 anos, que lhe vai ajudando às despesas da casa, em troca de disponibilidade sempre que a visita. Mas cada vez são mais rara as vindas. Giza é das que mais vale ser rainha por 1 minuto, que duquesa toda a vida.
Lopes, não se lhe afigura com o perfil para sair da borrasca, mas serve ao seu plano maquiavélico, para recuperar modo de vida.
Passado um mês do encontro, Lopes está completamente domesticado, a viver na Fonte do Cuco, fragilizado pelo conhecimento da sua situação de desempregado e submetido aos encantos de alcofa de Giza, que na matéria é devastadora, vive tempos de felicidade.
Assume todos os serviços domésticos e apoia Giza em tudo o que esta solicita. Lopes apaixonou-se e até à dependência foi um pulo. Vai buscá-la à casa de artigos religiosos quase todos os dias e assiste-a como um marido irrepreensível.
Uma noite, após sexo fogoso, em que Lopes foi arrasado, Giza dispara:
“ Zé, isto tem de acabar. Estou farta desta vidinha de pobre, Temos de fazer qualquer coisa para sair desta merda e viver a sério.”
“Mas Giza, a gente vive bem, com modéstia, mas felizes...”- responde o ingénuo Lopes.
“Como, felizes???? Deixa-te disso, felizes é ter dinheiro, para desbundar, gozar a vida. Nós aqui é para a sobrevivência, pouco mais...”
“ Tu lá sabes, mas eu até estou bem, sei que o subsídio é pequeno, mas ajuda, o pior vai ser quando acabar...”
“Vês.....vês....quando acabar, lá vais tu de requitó...eu não ganho prós 2...”
“Lá isso é verdade, mas eu ando à procura de trabalho, mas para eng.º de minas, não aparece nada....”
“Temos de fazer qualquer coisa...”
“ Mas o quê Gizinha, diz que eu faço...”
“Fazes?.....de certeza?...prometes?”
“ Prometo....”
“ Já ouviste falar do Berardo? “
“Já, aquele dos quadros valiosos...”
“ Do Baval ?”
“É o da PT”
“Sim...e do Ahmadinejad?
“Quem é esse?”
“ Do Irão”
“Ah estou a ver, mas porque perguntas isso tudo?”
“- Ouve bem tudo o que te vou dizer....”
(CONTINUA)
Existem realmente blogues muito bons .
ResponderEliminarEste prima pela imaginação do seu autor.
Nos textos , nas fotos e da forma como os assuntos são abordados .
Parabnes !