“QUANDO O POVO PASSA FOME, O REI NÃO PODE COMER FAISÃO”
António Barreto no dia de Portugal proferiu um discurso perante a classe política que nos tem governado nos últimos 30 anos, considerado corrosivo mas justo.
No Jornal das 9 da SIC-NOTÍCIAS, do dia de Sto. António, Mário Crespo teve como convidado Frei Fernando Ventura, que acaba de lançar o livro “Do eu solitário ao nós solidário”
Na Edição da Noite do mesmo canal, a excelente jornalista Ana Lourenço, entrevistou o Prof. Medina Carreira a respeito do seu livro “O fim da ilusão”.
Esta troika de personalidades diversas, teve um denominador comum nas suas intervenções: a responsabilidade dos políticos na situação catastrófica em que se encontra o país.
Quem passa pelas redes sociais, salvo raras excepções, o que vê é um copy paste de tudo que é possível copiar. Criatividade quase nula, conversas sem qualquer interesse, fotos na sua maioria que deviam ser privadas, músicas do you-tube que são postadas consecutivamente para os amigos, e amigos dos amigos, frases retiradas de contextos e livros que a maioria não leu. A rede é mesmo isso, uma rede que apanha todo o tipo de peixe. É o que fica do namoro dos membros com o seu próprio computador. Horas e horas a ver e ler coisas, que na sua maioria não valem o tempo que se perdeu de viver a vida real.
Isto a propósito de que as novas gerações serão as vítimas compulsivas das irresponsabilidades, eventualmente criminosas, dos políticos e no entanto nas redes, pouco se presta atenção ao fenómeno. A geração à rasca foi um bom exemplo de contestação, mas que se esfumou enquanto movimento cívico.
Medina Carreira situou o problema e a irreversibilidade do drama: cerca de 5 milhões de portugueses são beneficiários de apoios estatais - pensões, subsídios, etc. - A economia portuguesa tem-se debilitado, nos últimos 20 anos, as receitas fiscais não acompanharam as despesas e o Estado tem vindo a endividar-se continuamente para responder aos gastos. Os partidos políticos são agências de colocação de empregados, os deputados não têm autonomia, pois na sua maioria são profissionais da política, não têm preocupações nacionais, apenas a preservação do seu futuro. O sistema partidário conduziu o país a este beco em que nos encontramos.
Carreira diz que a responsabilidade política é uma burla e tem razão, a responsabilidade limita-se a perder eleições sem danos adicionais. Não há penalidades patrimoniais nem pessoais, mesmo que os actos dos governos conduzam ao empobrecimento brutal do país.
O futuro não é de esperança, a economia em Portugal cresce com o investimento e o consumo interno. As exportações têm um impacto nos melhores anos de 1 %. O investimento e o consumo sairão bastante afectados nos próximos anos e as exportações não são historicamente o motor do crescimento.
A economia portuguesa cresceu 6 % nos anos 60 e nos últimos 10 anos 0,6 %. Portugal em termos económicos em 2011 está ao nível de 2002, praticamente uma década perdida.
O endividamento português passou de 44 mil milhões em 2002, para 190 mil milhões em 2011, aumentou 150 mil milhões numa década.: 15.000 milhões por ano, 1.200 milhões por mês nos últimos 10 anos: 250 milhões de contos na moeda antiga, foi o acréscimo da dívida todos os meses durante os últimos 10 anos. Números aterradores.
A economia portuguesa cresceu nos últimos 20 anos a uma taxa média de 1.8, a despesa corrente primária (sem juros e investimento), cresceu no mesmo período 4.2.
A situação era previsível e os dados que a ela conduziram, sempre foram do conhecimento das autoridade políticas e financeiras, particularmente do Banco de Portugal.
As gerações futuras vão pagar cruelmente os juros, a dívida e ainda vai herdar a manutenção de um número excessivo de idosos. O assassínio de 2 gerações, foi assim que Medina Carreira designou a acção política dos últimos anos.
A qualidade da classe política regrediu ainda mais que a economia nacional. A política não atrai gente capaz.
Para concluir e parafraseando Frei Fernando Ventura, “ se o povo passa fome, o rei não pode comer faisão. Os políticos têm de ser os primeiros a dar o exemplo, para que a revolução dos não violentos, se antecipe a que os violentos tragam a revolução para a rua.”
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