PRAVDA


                                             ARTIGO SOBRE PORTUGAL PUBLICADO NO "PRAVDA"
                                                (Pravda.ru) on-line http://port.pravda.ru/mundo/30541-0/


O JRW dá a conhecer aos leitores um artigo da edição on-line do PRAVDA de
Moscovo, que retrata curiosamente a evolução da situação política e económica
de Portugal.
"Foram  tomadas  medidas  draconianas  esta  semana em Portugal pelo Governo liberal  de  José  Sócrates, um caso de um outro governo de  centro-direita pedindo ao povo Português a fazer sacrifícios, um  apelo repetido vezes sem fim  a  esta nação trabalhadora, sofredora,   historicamente deslizando cada vez  mais  no atoleiro da miséria. E não é por eles serem portugueses.
Vá  ao Luxemburgo, que lidera todos os  indicadores socioeconómicos, e você vai  descobrir  que doze  por  cento da  população é portuguesa, o povo que construiu  um  império  que  se  estendia  por   quatro  continentes  e quecontrolava  o  litoral  desde  Ceuta, na costa  atlântica, torneando a costa africana  até  ao  Cabo  da  Boa Esperança, a costa  oriental da África, no Oceano  Índico,  o  Mar  Arábico,  o Golfo da Pérsia, a  costa ocidental da Índia  e  Sri  Lanka.  E  foi  o primeiro povo europeu a chegar ao Japão....e Austrália.
Esta  semana,  o  Primeiro  Ministro José Sócrates lançou uma nova onda dos seus   pacotes  de  austeridade,  corte  de salários e aumento do IVA, mais medidas   cosméticas  tomadas  num  clima  de  política  de laboratório por académicos   arrogantes  e  altivos,  desprovidos de qualquer contacto com o mundo  real,  esteios  da classe política elitista: do Partido Social  Democrata
e Partido Socialista, gangorras de má gestão política que têm assolado o país
desde os anos 80. O objectivo? Para reduzir o défice. Porquê? Porque a União Europeia assim o diz. Mas é só a UE? Não,  não  é. O maravilhoso sistema em que a União Europeia é sugada é
aquele  em  que a agências de Rating, Fitch, Moody's e Standard and   Poor's,  baseadas nos EUA (onde havia de ser?) ,virtual  fisicamente controlam as políticas fiscais, económicas e sociais dos  Estados-Membros da  União Europeia através da atribuição das notações de crédito. Com  amigos  como  estes  organismos, e Bruxelas, quem precisa de inimigos? Sejamos  honestos.  A  União Europeia é o resultado de um pacto forjado por uma   França  tremente e com medo, apavorada com a Alemanha depois que suas tropas   invadiram seu território três vezes em setenta anos, tomando Paris com   facilidade,  não só uma vez mas duas vezes, e por uma astuta Alemanha
ansiosa   para se reinventar após os anos de pesadelo de Hitler. França tem a  agricultura, a Alemanha ficou com os mercados para a sua indústria.E  Portugal?  Olhem  para  as  marcas  de  automóveis  novos conduzidos por motoristas  particulares  para transportar exércitos de "assessores" (estesparecem  ser  imunes a cortes de gastos) e adivinhem de qual país eles vêm?
Não,  eles  não são Peugeot e Citroen ou Renault. Eles são Mercedes e BMWs,  topo de gama, é claro. Os  sucessivos  governos  formados  pelos  dois  principais  partidos,  PSD
(Partido   Social  Democrata,  direita)  e  PS (Socialista, de centro), têm sistematicamente  jogado os  interesses de Portugal e dos portugueses pelo esgoto  abaixo,  destruindo  sua  agricultura (agricultores portugueses são pagos  para  não  produzir)  e  sua  indústria  (desapareceu)  e  sua pesca (arrastões espanhóis em águas lusas), a troco de quê? O  quê  é que as contra-partidas renderam, a não ser a aniquilação total de qualquer  possibilidade de criar emprego e riqueza em uma base sustentável? Aníbal  Cavaco  Silva,  agora Presidente, mas primeiro-ministro durante uma década,   entre 1985 e 1995, anos em que estavam despejando bilhões através das  suas  mãos a partir dos fundos estruturais e do desenvolvimento da UE, é  um   excelente  exemplo de um dos melhores políticos de Portugal. Eleito fundamentalmente porque ele é considerado  "sério"  e "honesto" (em terra de  cegos, quem vê é rei), como se  isso  fosse  um  motivo para eleger um líder (que só em Portugal, é) e como  se  a  maioria  dos  restantes  políticos (PSD/PS) fossem um bando de sanguessugas  e parasitas inúteis (que são), ele é o pai  do défice público em  Portugal e o campeão de gastos públicos.    A sua "política de betão" foi bem  concebida,  mas como sempre, mal planeada, o  resultado de uma inépcia, descoordenada  e por vezes inexistente,  no modelo governativo do departamento  do Ordenamento do Território, vergado,  como habitualmente,a interesses investidos que sugam o país e seu povo. Uma  grande  parte  dos fundos da UE foram canalizadas para a construção de pontes   e  auto-estradas  para  abrir  o  país  a  Lisboa,
Timothy Hinchey
facilitando  o transporte  interno   e  fomentando a construção de parques industriais nas cidades  do interior  para atrair grande parte da população que assentava no litoral. O  resultado  concreto,  foi  que  as  pessoas  agora  tinham os meios para fugirem   do  interior  e  chegar  ao litoral ainda mais rápido. Os parques industriais   nunca  ficaram repletos e as indústrias que foram criadas, em muitos casos já  fecharam Uma  grande  percentagem  do  dinheiro dos contribuintes da UE vaporizou em empresas   e   esquemas   fantasmas.   Foram   comprados   Ferraris.  Foram encomendados   Lamborghini.  Maserati. Foram organizadas  caçadas de javali em  Espanha. Foram remodeladas casas particulares. O Governo e Aníbal Silva ficou  a  observar,  no  seu  primeiro  mandato,  enquanto  o  dinheiro foi desperdiçado.  No   seu  segundo  mandato, Aníbal Silva ficou a observar os membros  do seu governo  a perderem o controle e a participarem. Então, ele tentou  desesperadamente   distanciar-se do seu próprio partido político. E ele é um dos melhores. Depois  de  Aníbal  Silva  veio  o  bem-intencionado e humanitário, António Guterres  (PS),  um  excelente  Alto  Comissário  para  os  Refugiados e um candidato  perfeito  para  Secretário-Geral  da ONU, mas um buraco negro em termos   de   (má)  gestão  financeira.  Ele  foi  seguido  pelo  diplomata excelente,   mas  abominável  primeiro-ministro  José  Barroso (PSD) (agora Presidente da Comissão da EU, "Eu vou ser primeiro-ministro, só que não sei quando")  que  criou  mais problemas com seu discurso do que ele resolveu, passou  a  batata   quente  para Pedro Lopes (PSD), que não tinha qualquer hipótese  ou  capacidade para governar e não viu a armadilha. Resultando em dois  mandatos  de  José  Sócrates; um Ministro do Ambiente competente, que até  formou um bom governo de maioria e tentou corajosamente corrigir erros anteriores. Mas foi rapidamente asfixiado por interesses instalados. Agora,  as  medidas de austeridade apresentadas por este primeiro-ministro, são o resultado da  sua própria inépcia para enfrentar esses interesses, no período que antecedeu a última  crise mundial do capitalismo (aquela em que os  líderes  financeiros do mundo  foram buscar três triliões de dólares de um   dia   para   o   outro  para  salvar  uma   mão  cheia  de  banqueiros irresponsáveis,  enquanto  nada  foi  produzido para  pagar pensões dignas, programas de saúde ou projectos de educação).
E,  assim  como  seus  antecessores,  José  Sócrates,  agora  com  minoria, demonstra falta de inteligência emocional, permitindo que os seus ministros pratiquem  e  implementem  políticas  de  laboratório, que obviamente serão contra-producentes.  Pravda.Ru entrevistou 100 funcionários, cujos salários vão ser reduzidos. Aqui estão os resultados: Eles  vão  cortar  o meu salário em 5%, por isso vou trabalhar menos (94%). Eles  vão  cortar o meu salário em 5%, por isso vou fazer o meu melhor para me   aposentar cedo, mudar de emprego ou abandonar o país (5%) Concorda
(1%) Um por cento. Quanto ao aumento dos impostos, a reacção imediata será  que  a   economia  encolhe  ainda  mais, enquanto as pessoas começam  a  fazer  reduções  simbólicas, que multiplicado pela população de Portugal, 10 milhões, afectará  a criação de postos de trabalho, implicando a  obrigatoriedade do Estado a  intervir e evidentemente enviará a economia
para uma segunda (e no caso de  Portugal, contínua) recessão. Não é preciso ser  cientista  de física quântica  para perceber isso. O idiota e avançado mental  que sonhou com esses  esquemas, tem resultados num pedaço de papel, onde  eles  vão  ficar.  É   verdade, as medidas são um sinal claro para as agências  de  ratings  que  o   Governo  de  Portugal está disposto a tomar medidas  fortes,  mas  à  custa,  como sempre, do povo português. Quanto ao futuro,  as  pesquisas  de opinião providenciam uma previsão de um  retorno para  o PSD, enquanto os partidos de esquerda (Bloco de Esquerda e  Partido Comunista  Português) não conseguem convencer o eleitorado de suas ideias e propostas.
Só  em  Portugal,  a  classe  elitista  dos políticos PSD/PS seria capaz de punir   o  povo  por  se atrever a ser independente. Essa classe, enviou os interesses  de Portugal no ralo, pediu sacrifícios ao longo de décadas, não produziu  nada  e  continuou  a  massacrar  o povo com mais castigos. Esses traidores  estão  levando  cada  vez  mais  portugueses  a  questionarem se deveriam  ter sido assimilados há séculos, pela Espanha. Que convidativo, o ditado  português  "Quem  não   está bem, que se mude". Certo, bem longe de Portugal,  como  todos  os  que   possam,  estão fazendo. Bons estudantes a jorrarem  pelas  fronteiras  fora.  Que  comentário lamentável para um paísmaravilhoso, um povo fantástico, e uma  classe política abominável.”

Timothy Bancroft-Hinchey
Pravda.Ru
@Dimitri Tupolev-JRW-Moscow colab. Maratona



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