"Portugal está fora do mercado e depende exclusivamente do BCE para o financiamento da economia. Estamos de joelhos junto do BCE", afirmou o economista na Conferência "Reformar o Sistema Financeiro", promovida pela NYSE Euronext e apoiada pelo Expresso."O problema do défice é apenas a ponta do icebergue", disse António Borges, alertando para as consequências do endividamento externo do país. Portugal só chegou a esta situação, defende, porque cada vez faz-se mais investimento, mas com menos resultados. "Quando não há disciplina no investimento de capital há consequências desastrosas. Esbanjamos capital durante vários anos e o resultado é o país que temos hoje".Em países avançados quase todo o crescimento resulta da inovação. E não há inovação sem risco, em Portugal, nem em lado nenhum".
O JRW tem vindo ao longo do tempo a defender a tese que o Dr. Borges aqui enunciou. O grande problema que se coloca à economia nacional, não é tanto o do défice, mas o do endividamento externo, para o qual o défice contribui, mas não é a fatia mais importante.
Dissemos nós em artigo de opinião:
“Sem o apoio do BCE o país já teria entrado na bancarrota. O novo problema surgido das medidas de austeridade, é que vão impactar sobre o crescimento, o que significará a incapacidade da economia gerar recursos para responder ao endividamento externo.
De acordo com especialistas, o problema que se põe a Portugal, não é tanto o da dívida pública, mas sim o do endividamento externo público e privado. Tem de se refrear as importações, de forma a reduzir o défice comercial.
Os sucessivos governos e não apenas o actual, têm responsabilidade na contínua apresentação de défices, muitas das vezes para objectivos absolutamente incompreensíveis: CCB, estádios, submarinos, etc., obras incompatíveis com um país pobre e sem recursos naturais, que catalizem grandes crescimentos.
Tudo isto já se sabia em 2009 e mesmo assim o partido do poder prometeu e ocultou a verdadeira situação do país. A líder da oposição alertou diversas ocasiões, mas a sua incapacidade política não a ajudou a credibilizar-se.
As medidas adoptadas no pacote 4 da era Sócrates, vão ser insuficientes, porque foram tardias, os mercados não se abrirão ao financiamento do endividamento, preferirão esperar para ver. O que o PM refere como coragem, foi exactamente o oposto, foi cobardia, teve de as tomar como uma rendição e não como uma estratégia delineada. Coragem teria sido na campanha eleitoral de 2009, identificado a situação do país e propor um programa de governo que previsse o controlo das contas públicas. Optou pela via do eleitoralismo, com a conivência envergonhada do Ministro das Finanças.”
Atente-se à opinião final do economista, em que identifica o poder objectivo dos investidores (que se denominam abstractamente: “o MERCADO”), ao sublinhar que “estes pretendem exercer o poder nas empresas”. Se o Estado como entidade carente de recursos, não apresenta um plano exequível de retorno, será penalizada na procura das emissões de Dívida Pública, imprescindíveis para financiar o défice, tal como uma empresa que procura fontes de financiamento para acorrer às suas necessidades de tesouraria ou de investimento, terá de provar a viabilidade do seu plano de negócios, para encontrar parceiro que se disponibilize a investir.
Portugal está nesse grupo, daí o diagnóstico de Borges ter tocado na verdadeira fragilidade da economia portuguesa: investiu, mas sem rendibilidade, portanto transformou um investimento num gasto, tal qual a empresa que aposta num produto que o mercado não apreciou, perdendo o retorno. Foram obras públicas que absorveram imensos recursos, sem qualquer criação de riqueza produtiva e dinâmica: exemplo elucidativo: a maioria dos estádios de futebol construídos para o Euro,
O Estado como devedor duvidoso, arrasta consigo todas as instituições que têm de captar recursos para financiar a economia real (Bancos), daí o momento que vivemos, apenas o BCE, está disponível para injectar meios no sistema financeiro português e nos de outros países, para evitar um colapso que poderá pôr fim à moeda única, ou implicar a expulsão da união monetária de alguns dos seus fundadores, o que seria o funeral da UE que saiu do Tratado de Lisboa.
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