O Leasing da Vida...

                             VIDA VRS. MORTE
Esta semana foram obrigados a desertar, duas personalidades com algumas particularidades comuns que a sociedade em geral conhecia: figuras públicas durante a maior parte das suas vidas, idades parecidas, vítimas da mesma arma mortífera e um pormenor que foi divulgado por amigos e familiares; a coragem com que enfrentaram a adversidade que acabou por os vitimar.
Mario B. Resendes
António Feio
Esta crónica podia cair no âmbito de uma das célebres “Conversas da treta”, mas vale a pena dissertar sobre o tema, quanto mais não seja, porque essa é a minha vontade.
O que vou dizer pode parecer pessimismo, mas é o que penso e o pessimismo é um estado como outro qualquer.
A vida não passa da luta permanente contra a morte, todos os dias esse combate, que se inicia desde que se nasce, é travado sem tréguas e qualquer descuido pode ser fatal. A Morte é claramente a força dominante. Não me interessa a questão da Vida para além dela, pois ainda não foi possível aplicar o método experimental à Teoria, que está limitada aos crentes, sem capacidade de evidenciarem inequivocamente a existência de uma vida para além desta que vivemos, em que o hardware e o software são indissociáveis.
A vida é uma espécie de contrato estabelecido de uma forma bizarra: é um sistema de aluguer, que pode ser de; curta, média ou longa duração, considerando os prazos de: até aos 20; 50 e 80 anos, acima disto são marginalidades. Falta-lhe uma particularidade que anula a possibilidade de ser um acordo, não goza de boa fé. Ou seja, o locatário desconhece qual o prazo que o Locador lhe destinou para o aluguer. Outras evidências; aparentemente desconhece-se o Locador, que é completamente omisso e não há recurso sobre a decisão do prazo.
O Locador é a Morte, ela decide o prazo do contrato e o custo para a operação. Para muita gente, a Vida tem um juro que se torna insuportável e muitas das vezes os sofredores, preferem cessar o contrato de aluguer e devolver a carcaça ao senhorio, tanta é a insistência e reclamação do Proprietário.
A vitória da Vida sobre a Morte, é coisa de histórias aos quadradinhos, é quase como no Campeonato do Mundo, vai-se ganhando uns jogos, uns vão sendo eliminados mais cedo que outros, outros vão resistindo mais algum tempo, mas irreversivelmente a final, essa… é ganha sempre pela Mesma equipe…
O verdadeiro problema não é a Morte, o verdadeiro problema é o sofrimento, a dor e se alguma coisa está reservada para além dela. Para quem vive feliz, a Morte é um aborrecimento e compreende-se, terminar com o aluguer quando nada o justificava, é uma atitude pelo menos prepotente, mas para outros; é um alívio, cuja maior esperança era que ela viesse, pois a Vida que deveria ser o bem supremo, foi traiçoeira e desleal.
A Morte é muito menos hipócrita que a Vida, daí a sua superioridade, é autêntica, dizima tudo e todos da forma mais democrática que se conhece, ninguém escapa. A Vida é cheia de sortilégios, de enviesamentos, de injustiças, de desigualdades e deslealdades, tratando de maneira muito diversa, aqueles que dela usufruem, na maioria das vezes sem qualquer responsabilidade na vida que levam, para além da de não terem nascido no lugar certo. Basta ir à Ásia ou a África para se perceber. Para muitos, a Vida não passa de uma lacaia sem carácter da Morte, tais são as vicissitudes que provoca, ao ponto de sentirem esta, como libertadora da opressão daquela.
A Vida, também não há dúvida, que é mais velha que a Morte e esta depende daquela, talvez por isso nos vá iludindo sobre o momento da cessação do contrato. A Vida é sedutora, consegue envolver até aqueles que vivem mal, aqueles que com pouco se contentam, mas que procuram  por todos os meios adiar o divórcio, qual casal que se não entende nem se gosta, mas que se não separa, por variadas razões.
Uma última treta, como dizia o filósofo: “ cada minuto que passa, é um passo para a morte”. Em conclusão: a Vida é um momento, a Morte a Eternidade. Resta a memória durante a vida dos que ficam e na dos que virão.
Muitos milhões partilham a vida num dado momento, infinitamente mais,  já partilharam a Morte como destino comum.
A democraticidade da Morte tem destas aparentes incongruências, elimina sem analisar currículos nem a acção dos eleitos enquanto vivos, caso de António Feio e Mário Bettencourt Resendes, que para além de relevante actividade, eram considerados pela sua humanidade. Alguns dizem que é o Destino, outros; foi Deus, outros ainda; chegou a Hora, mas na realidade o que parece mesmo, é que se trata de um Sorteio Global com a bolinha com o nosso número na tômbola, mas com um senão, se sair a nossa, nunca a veremos.

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