O DESPERDÍCIO


A crise está a servir para tudo, principalmente para diferenciar as vítimas. Os gestores do PSI20 que engloba as 20 maiores empresas portuguesas cotadas em bolsa, ganham 44 vezes mais que os trabalhadores, as remunerações dos executivos aumentaram 5.3 %, enquanto a média salarial do pessoal caiu 11 %.
Escusado será dizer que se as cotações das acções reflectirem o desempenho da gestão, praticamente todas as administrações deveriam ter acompanhado superiormente as perdas dos trabalhadores, mas não, isso são contas de outro rosário.
Portugal é um país pobre de recursos naturais, entre os quais se inclui a capacidade de se indignar. O país aceita a pobreza de uma forma resignada, o desemprego como uma fatalidade, a estupidez dos políticos como uma infelicidade e a corrupção como uma naturalidade.
No entanto por uma questão de um fora de jogo mal assinalado contra a sua equipa, querem sovar o árbitro.
Estranho povo o nosso, que voga ao sabor dos que o governam sem sensatez, os anteriores e os actuais, que se apresentam sempre como salvadores dos imbecis que os antecederam.
A indigência com que se preocupa com a coisa pública, torna-os presa fácil de políticas expansionistas ou contracionistas, que montam mal e desmontam ainda pior.
O povo era a divindade de Sócrates, que na sua mistificação o fazia sentir que podia ter mais do que a racionalidade e a boa governação aconselhavam, segue-se-lhe um outro, que faz do povo a causa e o efeito da miséria do pais. O outro era arrogante com os adversários e doce na praça pública, este o oposto, seminarista no Parlamento e carrasco na comunicação com a sociedade do trabalho e mais ainda com os que o perderam, sempre com o argumento supremo da reforma estrutural do establishment.
A reforma não é para os ricos, é para os pobres, por isso tem nota alta nos mercados do capital. Do que se trata é de alterar a distribuição da riqueza e não de criar mais riqueza. A competitividade é a palavra mágica para que se produza mais barato à custa da perda de rendimento do factor trabalho, não é mais eficiência, é mais desemprego e menos salário- menos a fazerem mais-. Sem uma política de crescimento que absorva a matéria-prima (pessoas) que é rejeitada pelo quadro monetarista, tão do agrado do poder actual, os consumidores desaparecem, a economia definha e aumenta o desperdício. 

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