EDITORIAL

         O SILÊNCIO DOS INOCENTES

Nestes dias de negociações orçamentais, a comunicação social inunda a opinião pública, com comentários sobre o descalabro das contas públicas, recorrendo aos mais variados sábios: economistas, políticos, banqueiros, deputados, ex-ministros, etc....etc....
O que é incrível, é que as receitas são sempre as mesmas há décadas: diminuição da despesa pública, aumento ou não de impostos, apoio às exportações, privatizações, etc....etc...
Normalmente os sábios, são tudo pessoas de elevados rendimentos, com elevados padrões de vida, casas de férias, alguns não poucos, com motorista particular, segurança pessoal e outras mordomias, pagas pelas organizações, sejam públicas ou privadas.
Veja-se o caso do Governador do Banco de Portugal, a apelar à contenção salarial, quando o seu rendimento é completamente desproporcionado da realidade de um país periférico como o nosso.
Toda esta panóplia de hipocrisia, esbarra no silêncio dos inocentes, o aperto do cinto dos sábios é de 20 furos, enquanto que os inocentes têm apenas 2 a seguir à fivela....às vezes 1 só....
Congelamentos para quem ganha 450 ou 500 euros, não é o mesmo para os que ganham 5.000 e 10.000 euros, ou muito mais, para os primeiros é uma congelação siberiana, para os sábios, apenas um arrefecimento...
Confrange ver o à vontade, que indivíduos beneficiários do sistema, (o chavão da capacidade de trabalho e a inteligência....e blá...blá..., não colhe, pois também nos inocentes, há muitos que também as têm, mas as oportunidades não foram as mesmas, por razões de vária ordem; familiares, cunhas, favorecimentos, etc...), dão entrevistas com um ar emproado, quiçá com a solução para todos os problemas orçamentais, mas inapelavelmente a receita recai sempre sobre os pobres dos inocentes. Muitos destes sábios já passaram pela governação, ajudando como puderam e souberam, a cavar, cada um por si, mais um pouco a nossa cova, mas o importante é aparecer, é dizer uns palpites, é apresentar números e estatísticas em que se verifica o descalabro, que todos ajudaram a agravar.
Vive-se acima das posses (eles não...), o país é pobre (eles não...), temos de viver com mais modéstia (eles não...), o consumismo tem de ser refreado ( o deles não...), etc...etc...
Bem prega o Frei Tomaz “ olha para o que ele diz e não para o que faz”.

O nojo disto tudo, é que quem prega não tem autoridade moral, para exigir sacrifícios, os inocentes vêm-nos na televisão, nos jornais e não lhes creditam qualquer idoneidade, nem honorabilidade, para além da que é dada a um entertainer humorístico, pois sabem que tudo o que é de mau....é para os outros, eles são os intocáveis, porque se julgam os eleitos.
Líderes que não assumem sobre si, as regras que impõem aos outros, podem ser bons técnicos, mas não são líderes, são um AVATAR de líder. No Estado, nas empresas públicas, na banca, em muitas empresas privadas, o nosso país está repleto de AVATARES, indíviduos sempre prontos a receitar contenção, mas com uma vida de diversão. O silêncio dos inocentes não é eterno, um dia destes eles vão gritar.....

Zé Nina

1 comentário:

  1. é mesmo isso. porque não escreveis para o jornal ? ou entao sois do jornal, mas não podeis escrever isso. Está tudo minado. Fazeis bem, já disse a amigos, para verem o v. blog, tem gozo e coisa séria.

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