LITERATURA

 DAVID ESTALINE, é uma figura incontornável da literatura nacional e internacional. JRW recolheu as palavras do poeta sobre o seu último
 livro “ POEMAS AVULSO E SEM SENTIDO”. O departamento de literatura do JRW, publica em exclusivo a entrevista com o grande poeta.

O poeta atendeu-nos no CAFÉ MAJESTIC, em que mantém uma tertúlia literária com os maiores expoentes da poesia portuguesa: Vasquinho, Neca Sousa, Espanta, Sócrates, Passos, Cavaco, Alegre, entre outros, são assíduos frequentadores do espaço por excelência, que o MAJESTIC disponibilizou para os intelectuais na cave do estabelecimento.
Prof. a sua poesia tem raízes profundas, na cultura popular e em temas da actualidade social. É essa a sua Musa?
R- Aqui não há musas, já houve não nego, mas agora acabei com isso, sou um poeta sem vidas paralelas, falei com as musas e disse que tinham de mudar de vida. Falei com todas pessoalmente e fiz cessão de actividade.
P- O seu último livro tem tido críticas encomiásticas nas revistas da especialidade: O OLHO; POESIAS & AFINS; O CISCO TONITRUANTE; CAPITU, entre outras, dão ênfase a que a sua poesia é mais paratática que hipotática, ou seja, ao calar sobre tudo que não é o estrito, amplifica a vastidão desse estrito a partir do fino recorte causal em que se alicerça.
R- Ora bem, se quer que lhe diga com sinceridade, não li nenhuma, nem percebo essa conversa do calar o que não é estrito, eu quando mando calar, é para todos; destritos, concelhos e até mais, já tem acontecido mandar calar em freguesias. Quando o barulho é muito, não tenho qualquer problema, mando calar em qualquer sítio. A poesia é para ser ouvida em silêncio.
A este propósito vou-lhe ler uma quadra do meu livro “ POEMAS AVULSO E SEM SENTIDO”, que se relaciona com o que falou.

Que não me respeite, mas fique rendido,
Em momento sagrado, jucundo...
Que fira meu coração como Cupido,
Ficando a ardente seta bem no fundo

P- É realmente uma quadra com uma forte indicação de integridade – inclusive no plano de uma conduta individual e política – por saber enganchar a nossa existência precária e provisória numa essencialidade da qual sabemos tão pouco. Mas diga-nos, fale-nos da sua inspiração.
R- Não gosto muito de falar de inspiração, porque lembra-me transpiração, que é coisa que não tenho desde que deixei de trabalhar, já lá vão 20 anos, mas há momentos que na realidade me chamam à máquina de escrever. Por exemplo a quadra seguinte foi escrita num desses momentos. Um político estrangeiro recebeu a notícia da infidelidade da esposa, que lhe toldou a vida. A quadra é uma mensagem de apoio e de solidariedade.

Não lamentes, Alcino, o teu estado,
Corno tem sido muita gente boa;
Corníssimos fidalgos tem Lisboa,
Milhões de vezes cornos têm governado.


P- Diz-se que o prof. está ligado ao grupo objectivista e que se transposta com o sentido métrico/rímico do “pierrot lunar” de um Laforgue. Concorda com esta conotação?
R- Nem concordo, nem deixo de concordar, eu não faço poesia a metro, é verdade que li o “mon ami Pierrot”, mas nunca o conheci, quanto a esse Laforgue, não tenho ideia nenhuma. Quanto ao objectivismo, não há dúvida a minha poesia é toda ela objectiva, veja este exemplo, que lhe vou declamar:

Rapada, amarelenta, cabeleira,
Vesgos olhos, que o chá, e o doce engoda,
Boca, que à parte esquerda se acomoda,
Uns afirmam que fede, outros que cheira



P- Considerado também o mentor da vanguarda cubo-futurista, criou a linguagem zaúm, ou transmental, formada por sons abstractos. A sua vida foi tumultuada por numerosas viagens pela Europa e internamentos em hospitais psiquiátricos. Influenciou diversos poetas contemporâneos, acha que essas experiências foram decisivas no seu percurso literário?
R- Eu não gosto de falar desse tempo, mas é evidente que o Conde Ferreira, a Casa Amarela de Barcelos, o Magalhães Lemos, têm muita influência nos meus poemas, que acabam por ter muito de autobiográfico. Não posso deixar de ler este verso, que foi escrito num desses momentos de reclusão:

Num momento de reflexão
No silêncio, na escuridão
Sonhei que era borboleta
E fui parar ao S. João

P- Esse verso é de uma beleza intangível, “O procedimento do transalucinador é buscar novas formas de violação da linguagem prosaica, o que a arte é para transalém de conceitos cristalizados. O que está trans já esteve aqui. O que subverte fronteiras tem no âmago seu porto. No meio do caos a luz do diferente.”, esta opinião de um crítico americano, sobre a sua obra, reproduz também o que pensa?
R- É possível que sim, mas eu não sei o que ele pretende com isso tudo. Que vivo no Porto, é uma realidade e que gosto de frutas cristalizadas, não o nego. Agora violações, nunca aprovei, mesmo de um transalucinador. Portanto são comentários sobre a minha vida, que não posso aceitar. Conheço transsexuais, tenho alguma experiência, mas nada de relevante.
P-Prof. muito obrigado por estes momentos fabulosos, de convivência com a poesia e a personalidade.
R- Para se recordar, dedico-lhe aqui este poema, que não está no meu livro, trata-se de um inédito.

Fazê-la ir abaixo, mas com doçura
Sentir abrir a porta, que murmura;
Entrar pé ante pé, e com ternura
Tomá-la nos braços e dar-lhe com fartura.

E com este inédito de David Estaline, dedicado a Zirinha Lopes, reporter do JRW, concluímos a entrevista ao autor de "POEMAS AVULSO E SEM SENTIDO".

1 comentário:

  1. GRANDE FARSOLA ESTE POETA DE MOSCAVIDE. OS POEMAS SÃO DO BARIL. ESTE POBRE É O BOMBO DA FESTA. MAS SE O GAJO FOR ASSIM NÃO HÁ DÚVIDA QUE É A STAR.CONTINUEM PORQUE ME DIVERTEM MUITO.

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