SOCIEDADE

Cortejo de carros fúnebres contra nova lei


Dezenas de carros funerários vão desfilar hoje, sexta-feira, entre Matosinhos e Porto, numa "marcha silenciosa" contra a proposta de decreto-lei que abre o sector às associações mutualistas, que estão isentas de impostos.
A concentração está marcada para as 9.30 horas, junto à Exponor, de onde partirá o cortejo em direcção ao Governo Civil do Porto, onde os manifestantes contam ser recebidos pela governadora civil, Isabel Santos.

O presidente da Associação dos Agentes Funerários de Portugal (AAFP), promotora da marcha, João Barbosa, disse à agência Lusa que esta associação contesta também que a proposta de decreto-lei abra a possibilidade de as funerárias administrarem e gerirem cemitérios.
Também em declarações à Lusa, o director comercial da Servilusa, a maior agência funerária a operar em Portugal, com uma quota de mercado de 5,5 por cento, criticou a "marcha silenciosa".
"É uma questão de protagonismo. A contestação à nova lei é um erro", disse Paulo Carreira, que é simultaneamente presidente da Associação Portuguesa dos Profissionais do Sector Funerário (APPSF).
A notícia colheu de surpresa toda a redacção do JRW, que de imediato foi para o terreno.

Falamos com Etelvino Lopes proprietário da Funerária Irmãos Lopes & Lopes, de Gaia, que se prestou a esclarecer o que está subjacente a esta manifestação de protesto.

P- Um cortejo fúnebre, porquê ?
R- O cortejo já devia ter sido há mais tempo. Nós as funerárias lutamos com grandes dificuldades há já alguns anos, com perda permanente de clientela, a Medicina com as modernices e investigações que só serve para gastar os dinheiros do orçamento, anda sempre a ver se acaba com todas as doenças. Antigamente um cidadão adoecia, estava algum tempo na companhia dos entes queridos, mas já se sabia... éramos chamados em tempo útil, agora aguentam-no até ao limite...é drogas, maquinaria e sabe-se lá o que mais...
P- Mas é a expectativa de vida que aumentou...
R- Qual expectativa??? Nada disso, é o lobby que sempre existiu dos médicos e farmacêuticos contra as funerárias. Sempre houve um conflito de interesses entre estas corporações, mas todos iámos vivendo, agora está demais. Há gente a viver até aos 90 e 100 anos, que já devia estar no nosso conta corrente há muito tempo e não está, porque essa cáfila de manipuladores os aguenta. A segurança social já devia ter intervido, pois o custo com as pensões é inacreditável, mas nada, pois o lobby tem muito poder no Estado.
P- Mas é contra a investigação?
R- O problema não é a investigação, o problema é que anda-se a sustentar essas indústrias de próteses e de medicamentos, para atrasar o negócio das Funerárias, que sempre foi um negócio de gente respeitada e séria. O sector da carpintaria e das madeiras também sofre com o despautério dessa gente sem escrúpulos, temos uma quebra na indústria de fabrico de urnas que vai em cerca de 25 %. A manter-se a situação é insustentável. As floristas também se queixam e com toda a razão, os atrasos na entrega dos cidadãos para os nossos serviços, penaliza a venda de coroas e flores para homenagem e decoração.



P-A manifestação pretende alertar o país ?
R- Como é evidente não podemos continuar com este estado de coisas, o governo tem responsabilidades e tem de criar um quadro de leis para acabar com esta asfixia do sector.
P.- Mas quais as medidas concretas ?
R- As funerárias apresentarão um caderno reivindicativo, em que claramente somos a favor da criação de um grupo de trabalho que identifique os tempos máximos em que um cidadão poderá estar doente no hospital ou no domicilio. Decorrido esse período e no espaço de 30 dias deverá ser enviado para os nossos serviços.
Também exigimos que os hospitais, casas de saúde publicas e privadas, sejam obrigadas a quotas de entregas mensais às funerárias, nunca inferiores a 10 % dos utilizadores. Esta medida permitirá também uma maior rotação e acabar com as listas de espera. .
P-Mas as medidas poderão ser polémicas...
R- O governo tem de ter coragem. O Primeiro Ministro já deu um passo importante para a revitalização da actividade das funerárias, com as várias medidas de austeridade, que naturalmente e a curto prazo produzirão efeitos, sem dúvida, mas não chega, é necessário ir mais longe. É necessário acabar de imediato com assistências médicas que não resolvem nada e só estão a entravar o crescimento económico dos que ficam. Meios de diagnóstico excessivos, têm de acabar terminantemente, o cidadão se tem uma doença grave e não quer ter conhecimento, é um direito que deve ser respeitado. Se ele não pergunta, ninguém tem o direito de se imiscuir na esfera íntima do próprio. Como é evidente, essa praga dos meios de diagnóstico preventivos, atrasa desnecessariamente a entrega dos nossos clientes e prejudica os familiares, pois quanto mais tarde, mais caro fica o aviamento.
P- A acção de protesto terá continuidade?
R- Como é evidente, vamos ver a reacção das instâncias oficiais, mas estamos dispostos a ir até às últimas consequências.
P-Tais como ?
R- Greves gerais e jornadas de luta no dia de finados, com ocupação de cemitérios e ataques maciços a clínicas, hospitais e farmácias. Mas só os associados se deverão pronunciar.
Esta foi a voz de Etelvino Lopes representante das funerárias do norte, que estão em luta com um cortejo fúnebre, mas sem ocupante.

Sem comentários:

Enviar um comentário