No dia em que veio público uma notícia sobre o caso
Freeport, em que uma testemunha de um dos arguidos, que já foi ministro,
declarou que José Sócrates foi o destinatário de 500 mil contos para aprovar um
projecto, também se soube que o défice do Estado até Fevereiro triplicou como
resultado da quebra das receitas fiscais (4%). O 1º ministro pelo seu lado veio
dizer que o aumento dos combustíveis não é matéria da intervenção do governo,
mas em 2008 disse o oposto, pedindo uma urgente descida do ISP, para contrariar
a redução do consumo.
As autarquias não quiseram ficar atrás no
protagonismo e soube-se que a dívida ascende a 12 mil milhões, mais 50 % do que
o estimado.
O homem forte da Jerónimo Martins já foi avisando
que Portugal terá de recorrer a um 2º plano de resgate.
Mas qual é a ligação disto tudo?
Tal como numa equação a várias incógnitas, a
complexa resolução leva a um resultado lógico e sem remissão: Os desempregados
inscritos nos centros de emprego são já cerca de 650 mil e se considerarmos os
que já desistiram de procurar trabalho não deveremos estar muito longe dos
900.000 e no final do ano muito perto de 1 milhão.
A isto se chama um tsunami social sem paralelo.
Os políticos sem estatura moral nem competência,
que foram desordenando o território e a economia, sem opções estratégicas sobre
o desenvolvimento que estivessem para lá do betão, promoveram a derrocada
geral. Toda a política económica assentou na construção e não na produção de
bens e serviços transaccionáveis, com a agravante de ter aumentado o
endividamento até ao limite do impensável. Todos têm responsabilidade,
inclusive as vítimas de hoje, pois também pactuaram com todo o tipo reivindicativo,
sem cuidar que a riqueza produzida era incompatível com os benefícios.
Tratava-se de empréstimos a financiar gastos e não investimento.
O crescimento do país foi sempre anémico se
descontarmos as obras públicas, mesmo numa década em que o crédito foi fácil. Como
crescer agora, sem dinheiro para investir? E em quê? Qual a solução para o
desemprego para além da emigração? Quem tem de ser a locomotiva do crescimento?
A classe empresarial sempre se moveu na esfera dos subsídios e no apoio do
Estado, mesmo considerando honrosas excepções, daí a queda brutal do PIB quando
o Estado contrai no investimento. Portugal não tem uma economia privada sólida
e independente que responda aos desafios do mercado. De uma forma ou de outra, o
país foi-se subvertendo num funcionalismo público geral, uns directamente e
outros como beneficiários indirectos.
Estamos à deriva tal como as crias quando são
abandonadas pela mãe. Sem Estado tudo fica órfão. Foi esta monstruosidade que a
classe política criou e alimentou. Quase 40 anos de democracia em que cada vez mais
o fosso entre ricos e pobres vai aumentando, em que a classe média vai
definhando e em que os pobres mais pobres ficarão, com a eliminação
de direitos que pensavam adquiridos: saúde, trabalho e apoio na idade sénior.
Foi isto o resultado da equação.
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