Soares dos Santos e Belmiro de Azevedo fazem lembrar os
maridos que casaram com mulheres ricas e que depois de se banquetearem com as
suas riquezas, as abandonaram à sua sorte. A legitimidade legal não é
questionada, tal como a legitimidade dos políticos quando cometem os disparates
que todos conhecemos. A legitimidade de uns vem do dinheiro e do sistema
jurídico que o permite, a legitimidade dos outros vem dos votos.
A contradição surge,
quando os empresários mais representativos fazem jus a Frei Tomás – olha para o
que digo, mas não para o que faço-. Tanto criticaram os políticos, tanto os
censuraram, mas mesmo assim ficaram ricos e construíram impérios no contexto
nacional. Ética para eles só se estiver ligada ao conceito de lucro e ao
enriquecimento. O argumento de que são os maiores empregadores é uma falácia,
pois sem trabalhadores nunca enriqueceriam. Sem a força do trabalho, qualquer
actividade produtiva de bens ou serviços não cresce nem o capital floresce. Vivemos
tempos da ditadura do capital, que mostra bem as suas garras e despudor.
Coitados dos pobres empresários cuja esmagadora maioria de clientes é a classe trabalhadora
e dela amealharam, em que se reconhece a sua capacidade de iniciativa e
empreendedorismo, mas quando chega a hora de assumir o seu patriotismo,
comparticipando no esforço de recuperação de uma situação de falência em que o
país se encontra, são os primeiros a responder afirmativamente ao apelo do 1º Ministro
e emigram. A única argumentação que suporta a deserção é pagar menos impostos.
Se todos pudéssemos fazer como eles, restariam os deputados e os autarcas para
pagar impostos e perderiam os clientes que deles fizeram abastados. Mas não
podemos, é um privilégio de ricos com grandes escritórios de advogados que operacionalizam
tudo, debaixo de condições absurdas de concorrência desleal entre países da
mesma União, com a cumplicidade de sistemas jurídicos inenarráveis, que apenas
pretendem aliviar a carga do capital esmagando o trabalho. Que sirva de lição,
ética é coisa cada vez menos utilizada no léxico da política e do negócio.
O Trabalho está a
pagar a ingenuidade de acreditar de que ao dominar o poder político, dominaria o
processo distributivo, impondo cada vez maiores regalias e direitos sem cuidar
do equilíbrio das forças, sem cuidar de que a sobrevivência e a manutenção das
condições sociais, dependeriam da produção e não dos empréstimos letais do seu
maior adversário. Não cuidaram nem acautelaram e esse erro estratégico tem as consequências
que estão à vista, um dizimar das pequenas empresas e a destruição maciça de
centenas de milhares de postos de trabalho, isto para falar apenas de Portugal.
Santos bem faz jus
ao epíteto de “Santos ao pé da porta não fazem milagres”.
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