O JULIUS volta ao laboratório.
Você faz parte da classe média, que hoje é muito difícil enquadrar, mas
que vamos considerar uma família tipo de 4 pessoas, com o rendimento
proveniente do trabalho dos pais e com 2 filhos até aos 14 anos, com casa adquirida
com empréstimo ou arrendada, 2 carros utilitários em regime de leasing e filhos
a estudar.
O rendimento líquido mensal do agregado neste retrato robot deverá orçar
os 3.000 euros mensais: 500 casa+500 carros+1.000 alimentação+500 filhos+500
luz, telefones e diversos. Sem carácter científico o número não estará muito
longe da realidade, com eventuais transferências entre as naturezas dos gastos.
Para ter um input de 3.000 euros líquidos mensais, os salários brutos do
casal terão de ser cerca de 4.000 mês, já afectando subsídios de férias e natal
por 12 meses. Por outras palavras marido e mulher têm de ter um salário bruto
de 2.000 euros por cada um deles. Os 56.000 euros ilíquidos ano, transformam-se
em 36.000 disponíveis. Isto se vc. se quiser considerar garbosamente na
qualificação de um membro da classe média. Abaixo deste limiar, tem de formular
ajustamentos que o vão desacreditando na classe e a qualquer momento pode ser
expulso.
O que trouxe a crise de novidade: salários estagnados ou reduzidos,
aumento de preços, aumento de impostos e por último e mais grave, a perda de
trabalho de um dos indutores de rendimento.
Porquê?
A maioria das empresas nacionais está voltada para o consumo interno,
quer na produção de bens ou serviços.
Como o país em toda a sua amplitude económica gasta mais do que produz,
grande parte dos salários era subsidiado por empréstimos externos. Exemplos: os
bancos que lhe
financiaram a compra de casa, pediram dinheiro ao exterior para pagar ao
construtor, para comprar os carros os bancos também se endividaram e até grande
parte do que consome na alimentação tem um “made in” qualquer coisa, menos
Portugal.
Faça um exercício, verifique o que no dia-a-dia consome e veja o que é
de Portugal. Vai ficar surpreendido. O leite, a farinha, o açúcar, a carne, o
bacalhau, o café, o próprio peixe, a gasolina, a roupa, os computadores, os
medicamentos, a maioria dos consumíveis, quase tudo é esforço produtivo de
outros.
A crise veio destapar tudo isto, os capitalistas que nos emprestavam
dinheiro para pagarmos aos fornecedores da maioria do que consumimos fizeram “stop”
e é aqui que estamos. Se acrescermos ao nosso défice económico o destempero do
gasto público: estádios, auto-estradas desertas, rotundas na sua freguesia,
rendimentos mínimos justos e injustos, submarinos, aeroportos, vencimentos dos
políticos, nas empresas públicas e autarquias, o quadro fica perfeito: bancarrota.
A desilusão dos políticos perante as reduções consecutivas dos ratings,
é mórbida e falsa. Nada fizeram para inverter o ciclo da dependência do exterior
e o decréscimo da produção nacional. Foi sempre mais fácil importar, pedir emprestado
para se consumir do que criar riqueza para nós e para outros.
E agora?
Vc. vai empobrecer, só com muita sorte se vai aguentar na cada vez mais
selectiva classe média.
O paradigma mudou, a exportação que aumenta mais rapidamente é a emigração.
Arrancam para poderem sobreviver. Para ficar por cá, tem de se ajustar. É
triste, mas é assim…
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