A estadia do Presidente Cavaco Silva na República Checa, teve de ser prolongada, pelas razões sobejamente conhecidas e relacionadas com o vulcão Islandês.
Numa curta entrevista via satélite, recolhemos a opinião do Presidente, sobre a viagem.
P- Sr. Presidente, a viagem a Praga não tem sido propriamente um sucesso ?
R- Porque pergunta isso?
P- A opinião do Presidente Checo sobre o deficit português, foi pelo menos desagradável…
R- Não achei…
P- Mas ele em tom irónico disse que estava admirado porque os portugueses não estavam nervosos com um deficit de 8 %, quando os checos com 5 %, estavam em depressão.
R- Ah pois, mas expliquei-lhe que ele não conhece bem os portugueses, senão saberia que nós não nos enervamos com pouca coisa…só a partir de 15 % é que se poderá sentir um ligeiro frémito nacional. O deficit em Portugal é uma coisa tão corriqueira, que vivemos com ele como com o oxigénio e daí ninguém se enervar. Os checos ainda são novatos nestas coisas, portanto percebe-se a ansiedade. Até lhe falei nos gregos, que são os mais calmos de todos, esses só se enervam se o deficit for abaixo de…10 %....se for acima até parece o Alentejo...calma total..
P- Mas a ida a Praga, pareceu um pouco despropositada…
R- Isso é verdade, mas aconteceu uma situação insólita que nos conduziu até cá. Vou falar sobre isso para o JRW. Eu tinha dito ao meu staff para preparar uma daquelas, conforme um dos meus antecessores designou -presidência aberta-. E disse-lhes que queria ir a Braga. A minha mulher não conhece o Bom Jesus, nem o Sameiro e seria uma boa oportunidade para rezar pelo país naquele Santuário, porque segundo ela, Fátima já não é suficiente, temos de alargar o campo da oração, tantos são os pedidos. Ora o que aconteceu? o meu secretariado trocou o B pelo P …e vai daí…BRAGA virou PRAGA….quando dou por ela, já estava tudo tratado…
P- Realmente ao país pareceu uma redundância esta viagem, ainda para mais quando é preciso poupar…
R- Isso já não estou de acordo, porque de imediato se encontrou um motivo importantíssimo para a viagem.
P- Qual Sr. Presidente ? As trocas comerciais não têm relevância, o intercâmbio económico não parece justificar a despesa…
R- Nessa matéria é verdade, mas não foi aí que todo o meu staff viu o interesse de Estado….’
P- Então qual o motivo de Estado, Sr. Presidente ?
R- Como sabe a política de Estado tem áreas de grande complexidade, neste caso foi de carácter religioso….
P- Religioso ???
R- Sim, a nossa missão fundamental foi repor a verdade: o Sto. ANTÓNIO não é de PÁDUA, é de LISBOA…à entrada .da ponte CarlosV, uma estátua venerável do Sto. António, tem uma inscrição como sendo de Pádua, ora isto não é admissível, ele sempre foi de Lisboa, ainda que tenha morrido em Pádua. Falei com o Listopad, que sendo checo, mas vive em Portugal há muitos anos e que faz parte da comitiva, para mudar aquela farsa….
P- Mas o motivo não parece suficientemente importante, para se deslocar uma comitiva tão dispendiosa…o Sr. Presidente criticou um seu antecessor por andar a passear-se em elefantes na Índia….
R- Não é importante??? Então um santo que é nosso e não temos assim tantos, - veja… depois do 25 de Abril ainda não encontramos 1, ..- e ainda por cima querem desviá-lo ?
P-???
R- É evidente que foi de toda a importância, só me aborreci porque na comitiva, não havia ninguém especialista em cantaria, porque até eu próprio ajudava a mudar a placa…se o Ministro das Obras Públicas tivesse vindo, eu e ele, tínhamos posto aquilo em ordem…
P- Sr. Presidente, estamos vencidos mas não convencidos…
R- Já estou habituado, mas só a História me dará razão…o Sto. António não era Toni era Tone, pregava aos peixes, tal como eu…, mas Pádua… peixes… só no mercado…
P-Mas esse era o P. António Vieira...
R- Não interessa é igual...também pregava...
P- E a sua politica de influência no relacionamento económico, que lhe advém de quando era Primeiro Ministro, produziu resultados?
R- É evidente que sim. Promovi contactos bilaterais entre o empresariado dos 2 países e pelo que me foi dado a conhecer, estabeleceram-se vários protocolos e até negócios importantes: uma empresa de iogurtes vai vender para 3 lojas de Praga, um produtor de vinhos negociou 500 garrafas de vinho verde, uma empresa têxtil de Felgueiras fez um acordo comercial para vender 400 pares de meias por ano para a Loja das Meias cá do sítio. Uma editora conseguiu um contrato para editar em checo o Condor Popular, que é muito apreciado, principalmente o Kansas Kid, o Mandrak e o Major Alvega., É certo que estes importantes negócios têm contrapartidas, mas nada que se compare com as que ouvimos falar dos submarinos…
P- Pelos vistos o regresso foi atrasado por causa da Islândia ?
R- Ai sim ? isso é que não sabia…
P- Não sabia do vulcão ?
R- O quê ? outra vez a falência do sistema financeiro ????
P- Não Sr. Presidente, foi mesmo um vulcão de verdade em que as nuvens de cinzas da erupção estão a impossibilitar os voos…
R- Ó diabo, não percebo como ninguém me avisou…a comitiva está toda nos restaurantes e discotecas de Praga e já estou a ver que está pouco preocupada…o meu telex também está avariado….
P- Telex ? Porque não email?R- Não gosto e ocupa muito espaço. Com as malas da minha mulher, dava excesso de carga.
Foi assim... que terminamos a conversa com o PR.
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