CIÚMES DE MORTE

O que leva um pacato cidadão na casa dos 50 anos, com formação superior, com uma família aparentemente e na opinião dos vizinhos feliz, a assassinar à facada a mulher, a filha mais velha de 16 e deixar a mais jovem com 13 às portas da morte?
Não foi em Chicago ou em Caracas, foi em Soure perto de Coimbra.
Motivos passionais, é a justificação, ou seja foi resultado de uma discussão alimentada por ciúmes.
Quando chegou a polícia, o actor que estava fechado no quarto, pedia que o matassem.
Ciúme é "a reacção complexa a uma ameaça perceptível a uma relação valiosa ou à sua qualidade." . Provoca o temor da perda e envolve sempre três ou mais pessoas, a pessoa que sente ciúmes - sujeito activo do ciúme -, a pessoa de quem se sente ciúmes - sujeito analítico do ciúme - e a terceira ou terceiras pessoas que são o motivo dos ciúmes - o que faz criar tumulto.  (psicólogos israelitas Ayala Pines e Elliot Aronson). 
Esse sentimento apresenta carácter instintivo e natural, sendo também marcado pelo medo, real ou irreal, vergonha de se perder o amor da pessoa amada . O ciúme está relacionado com a falta de confiança no outro e/ou em si próprio e, quando é exagerado, pode tornar-se patológico e transformar-se em uma obsessão (psicóloga clínica Mariagrazia Marini) -Wikipedia.
Tragédia indescritível, com violência brutal, que desfez em minutos um quadro construído durante anos com cumplicidades e afectos.
O ciúme é o mais comum e abjecto sentimento que connosco convive diariamente, seja como sujeito passivo do ciúme dos outros, ou como usufrutuário do ciúme sobre outros.
Não é só nas relações amorosas, na actividade profissional, na política e no dia-a-dia de um modo geral, é comum o acesso de ciúmes pela maior ou menor atenção com que os líderes tratam diferentes colaboradores, ou na perda da auto-estima destes por se se sentirem ostracizados em detrimento de outros.
Como dizem os psicólogos é o pânico da perda. A patologia pode vir a seguir, como aconteceu com o engenheiro de Soure.
O que se passa é a irracionalidade do sentimento, que em última instância vai determinar que o resultado seja exactamente aquele que pretendia evitar: a perda.
É demasiado simplista limitar o tema ao “guilty” do crime. Estas ocorrências que cada vez são mais frequentes, com pessoas sem antecedentes comportamentais que a tal conduzissem, deixam-nos perplexos e sem uma lógica que nos alivie a incompreensão.
Pedir para o matar, sem que tivesse a coragem do suicídio, é como procurar a expiação por mãos estranhas. A vida da família deste ex-pacato engenheiro acabou num ápice, a mãe e uma bela filha adolescente sucumbiram em segundos a golpes de facada, o que por si ainda é mais tenebroso. O Diabo esteve em Soure e deixou marcas de ferro e fogo.
São momentos destes que nos fazem pensar que se Deus existe, distraiu-se. 

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