O Expresso na edição on-line aborda um artigo da revista norte-americana “New Scientist”, que divulgou
resultados de uma grande investigação sobre o funcionamento dos mercados financeiros,
mais propriamente na “negociação de alta frequência”.
O tema é fascinante, particularmente para quem acompanha
com alguma regularidade a volatilidade
bolsista. A origem da investigação remonta
ao período 2006/2011 e é de capital importância para se perceber as origens das
oscilações dos mercados financeiros, que têm impactos devastadores na vida dos
cidadãos, sem que estes compreendam os motivos das alterações bruscas e brutais
da vida social.
Aumento de preços, austeridade, desemprego, perda de
direitos que se designavam como adquiridos e que de um momento para o outro…passaram
a ex-adquiridos, milhares de pequenas e médias empresas destruídas em meses,
algumas com dezenas de anos de existência, a indústria da construção civil falida
e um sem número de implicações, que condenam as sociedades ao empobrecimento e
recuos nas condições de vida inimagináveis há 6 anos atrás.
O coração dos famosos mercados está em Wall-Street e é lá que
se decide a vida do mundo do dinheiro, o resto é paisagem.
Voltando ao resultado da investigação da “New Scientist”, ela
concluiu que nos mercados financeiros se trava uma grande guerra invisível
entre algoritmos, que exponencia o risco sistémico do capitalismo financeiro,
através de ordens de compra e venda de acções dadas automaticamente em milésimas
de segundo e que representam hoje em dia mais de 50 % da negociação nos EUA e
30 % na Europa. Denominam-se “negociações de alta frequência”.
Algoritmo é uma sequência finita e não ambígua de instruções
computáveis para solucionar um determinado problema.
Para se perceber vamos a um exemplo: problema:fazer um
bolo -1º-receita do bolo=algoritmo-2º-ingredientes=dados de
entrada-3º-recipientes utilizados=variáveis do processo-4º-modo de
fazer=descrição dos passos para a solução (fazer o bolo).
Pelo exemplo concluímos que o algoritmo é a receita.
De volta ao nosso tema, Neil Johnson da New Scientist
concluiu que as receitas são tantas e em simultâneo que o bolo tem momentos que
explode até com o fogão.
As oscilações brutais das cotações com descidas e subidas
em fracções de segundo tão curtas, tornam-nas invisíveis aos traders dos
mercados. Os crashes com implicações que se prolongam durante anos, com quedas
de mais de 20 % nas cotações e subidas subsequentes, têm por vezes a duração de
30 minutos. A destruição de valor nesses 30 minutos é suficiente para arrasar
milhões de postos de trabalho em todo o mundo.
A complexidade a que se chegou desde os anos 90, dá um
poder incrível a cerca de 400 empresas que têm as ferramentas para despoletar
sobre os mercados estratégias de financeirização, que resultam em determinados
momentos num “flash-crash”-a derrocada instantânea-.
O mundo joga-se nos computadores, em todas as variáveis da
vida moderna. Os algoritmos são estabelecidos de acordo com a estratégia de
operadores que se digladiam numa guerra cibernética, com o fim de maximizar o
lucro. A velocidade de processamento das operações e a capacidade das máquinas
que suportam o processo, levam a pensar segundo o responsável da revista, que
tem momentos que escapam ao controlo humano. A assim ser, estamos perante uma
nova arma de destruição maciça, sem ruído, nem sangue aparente. É como a
radioactividade das bombas atómicas, vai matando em silêncio e sem sangue.
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