O
nosso correspondente na Lapónia foi falar com o Pai Natal. A entrevista havia
sido combinada em Agosto. Naturalmente que estávamos particularmente
interessados na actividade do Pai Natal em Portugal.
-Pai Natal
por favor diga-nos como vai ser o Natal dos portugueses?
-Meu
rapaz como sabes os portugueses são descendentes dos celtas e dos visigodos.
Isto quer dizer, que são muito imprevisíveis, mas estamos a trabalhar para
encher 1 contentor de prendas. Nada como antigamente, em que tínhamos de fazer
3 turnos para aviar os pedidos.
-É
evidente que depois da crise e com a entrada da troika no vosso país, as pessoas
têm medo e os pedidos de prendas baixaram muito. A nossa fábrica aqui na
Lapónia está certificada pela ISO9000, só produz alta gama e as prendas são na
sua maioria para os alemães e americanos. As prendas para os países mais
pobres, como o vosso, vão da nossa delegação na China. Aqui da Lapónia directo
para Portugal é pouca coisa. Curiosamente a maioria é para pessoas que devem
ser importantes pois aparecem muito na televisão. A TV LAPONA tem mostrado esses
clientes de Portugal a ensinar como se administra bancos.
- Pai Natal deve haver alguma confusão, mas
para o caso também não é importante. Ainda usa as chaminés para entregar as
prendas?
-
AhAhAh (o Pai Natal dá uma estridente gargalhada), já não há chaminés. Agora
tenho de entrar pelos exaustores. É muito mais complicado, pois cada marca tem
a sua técnica. Levo duas equipas, uma que desmonta o exaustor e outra que o monta
de novo. Mas já agora apelo para que os limpem, pois saio com o fato todo cheio
de gordura e preto. A meio da noite já não me reconhecem e pensam que ando a assaltar
as casas.
- Continua a
satisfazer só os pedidos dos bem comportados?
-
Isso também mudou. Houve um ano em que adoptei essa teoria e a fábrica parou. Era
meia dúzia de encomendas para essa gente. 98 % não se comporta para receber prendas.
Tive de excluir apenas os da alta criminalidade.
- Os que
cometem peculatos, branqueamentos e desvios também foram excluídos?
-
Claro que não. A grande maioria das boas prendas vão para esses. Não garanto,
porque o sistema informático está off por causa da sobrecarga, mas para
Portugal as prendas que este ano saem da Lapónia é para pessoas que que estão envolvidas
nessas coisas.
- Mas Pai
Natal e para os pobres?
-
Sabes isto desde que acabou a guerra fria mudou muito. As obras de caridade
estão a carga da Mãe Natal. Ela fez um out-let com as rejeições da fábrica aqui
da Lapónia e manda para os pobres. Eu sei que pode parecer pouco recomendável,
mas tenho muitos postos de trabalho para manter e tenho de olhar pela vida
desta gente. Pobre é pobre e só serve para complicar, até mesmo ao Pai Natal.
Entregar prendas pechisbeques não se justifica pelos custos de transporte.
- Ainda
utiliza as renas?
-
Este ano por causa desses movimentos de protecção dos animais, não arrisco.
Ainda me paravam a meio da distribuição, com manifestações. Resolvemos levar Smarts
voadores, gastam pouco e cabem em todo o lado.
- O tempo
pelo Pai Natal não passa, continua com o mesmo aspecto…
-
Ah pois isso é o que tu julgas, é ilusão. Devo estar já com cerca de 350 anos,
mas aqui por causa dessa malvada crise também alargaram a idade da reforma. Estava
com ideias de me aposentar aos 365 e agora pelos vistos tenho de aguentar até
aos 400, isto para não ter penalizações. É preciso um Pai Natal mais jovem, sem
estas barbas brancas e esta roupa que não tem jeito nenhum. Estou em contactos
com empresas especializadas para mudar a imagem, vamos ver se para o ano faço
uma surpresa.
-Então até
para o ano e Feliz Natal Pai Natal.
-
Para vocês também. Leva esta prenda como recordação.
O Pai Natal
deu-nos uma Bic o que nos encheu de orgulho.
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